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quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

............ são reis






Encostei a minha saudade
na esquina do teu olhar
e deixei-me ficar
vendo o que tu vias
sentindo o que tu sentias
rindo do que tu rias
Mas quando o teu olhar se fechou
e ao abrir-se não mais me viu
nem me reflectiu
senti que era tempo e hora
de encostar a minha saudade
noutra sombra, noutra pele
e fui embora!....

são reis
9janeiro20

quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

SAUDAÇÃO AO NOVO ANO






SAUDAÇÃO AO NOVO ANO




Ah! O ano novo!

Serão outras pequenas pílulas de esperança,

Talvez, de desilusões, de ausências...

Um período de outras tentativas,

Que, no fundo, são as mesmas.

O ano novo é como abrir uma janela:

Embora a paisagem, os caminhos sejam os mesmos.

Sempre nos parece que há uma nova forma de olhar,

Que, por alguma razão inexplicável,

O fato de se mudar de posição nos abre novos horizontes.

Vem, ano novo, vem!

Que possamos te olhar depois com saudade

E que não seja como este que se foi

Que se vai deixando duras marcas,

Cicatrizes e vazios irreparáveis.

Vem, ano novo, vem!

De qualquer forma

Nós, sobreviventes, não temos escolha:

Temos mais 365 dias

Para renovar nossas esperanças

E agonias.

........ INSTANTÂNEO






INSTANTÂNEO


A ternura que vi no teu olhar                                               
No momento de dizer adeus
Vive, agora, a me torturar
E a entristecer os dias meus.

Sei ser tarde pra voltar atrás
Que errei e que errar assim
Se paga muito e até o fim
É um erro que não se apaga mais.

Vejo e revejo na fotografia
Nossos tempos de felicidade
E pergunto pela alegria
Que sem dó só virou saudade.




Ilustração: experimentalphotoarts.blogspot.com.

terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Canção do destino infeliz






Canção do destino infeliz


Eu noto que estás bem diferente.
Que me tratas sem carinho, de repente;
que o amor, que foi tão grande,
antigamente,
agora se transforma em uma prisão.
Sei que passou o tempo da paixão,
mas, se o destino me pôs no teu caminho
não pode ter sido apenas por acaso
e me pergunto se tens um outro amor,
o que não vem ao caso.
Tendo ou não, seguirei sozinho.
Vou cuidar das minhas feridas,
da minha dor,
pois, sei que não dirás
que já não me queres mais
e te compreendo,
embora vá passar o resto da minha vida,
querida,
te esquecendo. 

Ilustração: Vagalume.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

Manuel Bandeira

O impossível carinho



Escuta, eu não quero contar-te o meu desejo
Quero contar-te apenas a minha ternura
Ah se em troca de tanta felicidade que me dás
Eu te pudesse repor
- Eu soubesse repor -
No coração despedaçado
As mais puras alegrias de tua infância!

Manuel Bandeira




Actualidade, livros, árvores, amores, ficções, memórias, maluquices, provocações, desatinos, brinca

Mia Couto, in "idades cidades divindades"






POESIA
O Amor, Meu Amor
Nosso amor é impuro
como impura é a luz e a água
e tudo quanto nasce
e vive além do tempo.

Minhas pernas são água,
as tuas são luz
e dão a volta ao universo
quando se enlaçam
até se tornarem deserto e escuro.
E eu sofro de te abraçar
depois de te abraçar para não sofrer.

E toco-te
para deixares de ter corpo
e o meu corpo nasce
quando se extingue no teu.

E respiro em ti
para me sufocar
e espreito em tua claridade
para me cegar,
meu Sol vertido em Lua,
minha noite alvorecida.

Tu me bebes
e eu me converto na tua sede.
Meus lábios mordem,
meus dentes beijam,
minha pele te veste
e ficas ainda mais despida.

Pudesse eu ser tu
E em tua saudade ser a minha própria espera.

Mas eu deito-me em teu leito
Quando apenas queria dormir em ti.

E sonho-te
Quando ansiava ser um sonho teu.

E levito, voo de semente,
para em mim mesmo te plantar
menos que flor: simples perfume,
lembrança de pétala sem chão onde tombar.

Teus olhos inundando os meus
e a minha vida, já sem leito,
vai galgando margens
até tudo ser mar.
Esse mar que só há depois do mar.

Mia Couto, in "idades cidades divindades"

sábado, 11 de janeiro de 2020

Nuno Júdice






POESIA
FONS VITAE
As confidências demoram-se no céu da boca
como as nuvens lentas do Outono. Sopro-as,
para que o céu se limpe e apenas uma névoa vaga
se cole ao que me queres dizer; mas
encostas-me os lábios ao ouvido e tu, sim,
é que me contas que céu é este, e de onde
vêm as nuvens que o cobrem. Sentimentos,
emoções, paixões, interpõem-se entre
cada frase. Nem há outros assuntos
quando nos encontramos, e me começas a falar,
como se fosse o coração a única
fonte do que dizemos.

Nuno Júdice, in POESIA REUNIDA (1967-2000), (Dom Quixote,2000)

sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

Pablo Neruda






Pablo Neruda
*
Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar,
mas não me tires o teu sorriso.

Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.
A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados,
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar, o teu sorriso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me
todas as portas da vida.
Meu amor, nos momentos
mais escuros solta
o teu sorriso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.
À beira do mar, no outono,
o teu sorriso deve erguer
a sua cascata de espuma,
e na primavera, amor,
quero o teu sorriso como
a flor que esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.
Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu sorriso,
porque então morreria.

terça-feira, 7 de janeiro de 2020

Cidália Ferreira








POESIA
És a chuva onde caminho com noção
Esvoaçam folhas em chuva que cai
Sobre uma brisa silenciada,
Caem pingos, é minha saudade
Que fica guardada no peito, 
A chuva cai suavemente 
As folhas dançam em meu redor
A brisa suaviza-me o rosto
Trazendo à saudade, o teu jeito
E os pedacinhos do teu amor,
Quero. Quero encontrar-te outra vez
.
Caem as folhas, mensagens de vida
Sinal, de tantas vidas vividas,
Caminho, procuro-te, em reflexão
Quero entregar-me de corpo e alma
Ás emoções do meu sentir,
Entre ventos e folhas caídas
És meu respirar, a minha calma
És como as folhas que dançam na chuva
O colorido que me alegra, o elixir
És a chuva onde caminho com noção.
***
Cidália Ferreira.

Foto de Cidália Ferreira.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

Maria Teresa Horta






O lince da tua boca
deitado no meu poema

bebe o corpo dos meus versos
devora-lhe a alma acesa

Com as pernas puxa e enlaça
a linguagem desvenda

com as garras desce-lhe as alças
aceita a febre descalça

Crava os dentes na sintaxe
lambe devagar as letras

sente a rima onde e enreda
possui a escrita sem pena

Procura a nudez da página
tem um orgasmo de seda

['O lince do meu poema' de Maria Teresa Horta in Poesis]

domingo, 5 de janeiro de 2020

Nuno Júdice //// AMOR....



POESIA
Pergunto-te o que é o amor? E tu
dizes-me que o amor é perguntar-se por ele, e é
a dúvida que entra nessa pergunta
a que me dás a resposta, e a certeza
com que devolves a minha dúvida.
Acredito em ti. Nem o amor permitiria
outra coisa, nem conheço outra fé capaz de
misturar dúvidas e certeza, ou se haverá
mãos mais hábeis do que as tuas para
fazer essa alquimia de corpo e alma.
Tenho então de saber que não pode ser
senão assim. A crença no teu amor só pode nascer
do meu amor; e se trocamos perguntas e
respostas, como trocamos sentimentos e olhares,
é porque o amor é um jogo de interrogações.
Afinal, dizes-me, sabias o que é o amor? E
eu respondo que não conheço as regras desse
jogo; que és tu quem tem as peças e o tabuleiro
onde nos procuramos, mesmo que já nos tenhamos
encontrado, no abraço em que tudo acaba e começa.
Gosto destes jogos em que já se sabe quem
vai ganhar. Eu ou tu? qual das peças
avançará primeiro? Pouco importa, no fundo. A
minha dúvida nasce da tua certeza, como a
resposta que me dás é esta dúvida que te devolvo.


Nuno Jùdice


A imagem pode conter: uma ou mais pessoas

sábado, 4 de janeiro de 2020

Almeida Garrett






Almeida Garrett
Este inferno de amar !


Este inferno de amar — como eu amo!
Quem mo pôs aqui n’alma… quem foi?
Esta chama que alenta e consome,
Que é a vida — e que a vida destrói —
Como é que se veio a atear,
Quando — ai quando se há-de ela apagar?
Eu não sei, não me lembra; o passado,
A outra vida que dantes vivi
Era um sonho talvez… — foi um sonho —
Em que paz tão serena a dormi!
Oh! que doce era aquele sonhar…
Quem me veio, ai de mim! despertar?

Só me lembra que um dia formoso
Eu passei… dava o Sol tanta luz!
E os meus olhos, que vagos giravam,
Que fez ela? Eu que fiz? — Não não sei
Mas nessa hora a viver comecei…

Almeida Garrett