Pergunta-me
Pergunta-me
se ainda és o meu fogo
se acendes ainda
o minuto de cinza
se despertas
a ave magoada
que se queda
na árvore do meu sangue
Pergunta-me
se o vento não traz nada
se o vento tudo arrasta
se na quietude do lago
repousaram a fúria
e o tropel de mil cavalos
Pergunta-me
se te voltei a encontrar
de todas as vezes que me detive
junto das pontes enevoadas
e se eras tu
quem eu via
na infinita dispersão do meu ser
se eras tu
que reunias pedaços do meu poema
reconstruindo
a folha rasgada
na minha mão descrente
Qualquer coisa
pergunta-me qualquer coisa
uma tolice
um mistério indecifrável
simplesmente
para que eu saiba
que queres ainda saber
para que mesmo sem te responder
saibas o que te quero dizer
Mia Couto, in 'Raiz de Orvalho'
1 comentário:
Um Poema muito bonito ceifado num campo de perguntas para tirar lugar à dúvida que subsiste e quase sempre é de duração eterna !!!... Mia Couto é um expoente da Literatura Africana !!!... É detentor de vários Prémios Literários incluindo o "Nobel Americano" !!!... Bj Conde <3
Enviar um comentário