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domingo, 28 de julho de 2019

Mia Couto, in 'Raiz de Orvalho'





Pergunta-me

Pergunta-me 
se ainda és o meu fogo 
se acendes ainda 
o minuto de cinza 
se despertas 
a ave magoada 
que se queda 
na árvore do meu sangue

Pergunta-me 
se o vento não traz nada 
se o vento tudo arrasta 
se na quietude do lago 
repousaram a fúria 
e o tropel de mil cavalos

Pergunta-me 
se te voltei a encontrar 
de todas as vezes que me detive 
junto das pontes enevoadas 
e se eras tu 
quem eu via 
na infinita dispersão do meu ser 
se eras tu 
que reunias pedaços do meu poema 
reconstruindo 
a folha rasgada 
na minha mão descrente

Qualquer coisa 
pergunta-me qualquer coisa 
uma tolice 
um mistério indecifrável 
simplesmente 
para que eu saiba 
que queres ainda saber 
para que mesmo sem te responder 
saibas o que te quero dizer

Mia Couto, in 'Raiz de Orvalho'

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1 comentário:

mariferrot disse...

Um Poema muito bonito ceifado num campo de perguntas para tirar lugar à dúvida que subsiste e quase sempre é de duração eterna !!!... Mia Couto é um expoente da Literatura Africana !!!... É detentor de vários Prémios Literários incluindo o "Nobel Americano" !!!... Bj Conde <3