Seguidores

sexta-feira, 27 de julho de 2012

O Poema



O poema me levará no tempo
Quando eu já não for eu
E passarei sozinha
Entre as mãos de quem lê

O poema alguém o dirá

Às searas

Sua passagem se confundirá

Com o rumor do mar com o passar do vento

O poema habitará

O espaço mais concreto e mais atento

No ar claro nas tardes transparentes

Suas sílabas redondas

(Ó antigas ó longas

Eternas tardes lisas)

Mesmo que eu morra o poema encontrará

Uma praia onde quebrar as suas ondas

E entre quatro paredes densas

De funda e devorada solidão
Alguém seu próprio ser confundirá
Com o poema no tempo
.


Sophia de Mello Breyner e Andresen

1 comentário:

fatima disse...

(Ó antigas ó longas
Eternas tardes lisas)
beijo