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sexta-feira, 30 de abril de 2010

As time goes by



Meu bem,
Me chama de Humphrey Bogart
Que eu te conto Casablanca.
Me tira esse sobretudo;
Sobretudo, conta tudo
Que eu te dou uma rosa branca.
Meu bem,
Me chama de Humphrey Bogart...
Te dou carona em meu carro
Chevrolet — que sou bacana;
Te levo, meu bem, pra cama
Fumamos nossa bagana;
Te provo que sou sacana...
Te faço toda a denguice:
Te dispo que nem a Ingrid,
Te dou filhos de montão
Só pra te ver sufocar...
Mas me chama de Humphrey Bogart!
Faço chover colorido
Como num bom musical.
Te chamo de Lauren Bacall!
Te danço, te canto, te mostro,
Entre as pernas, meu bom astral...
Te deixo pro enxoval
Meu chapéu preto de gangster,
Mil poemas de ninar...
Só pra te ouvir sussurrar:
Como te amo, meu Humphrey Bogart!

Tanussi Cardoso

quinta-feira, 29 de abril de 2010


Crime ???????



Testemunhas: as quatro paredes.
Local do crime: a cama.
Réus: eu e você.
Crime cometido: amor louco e desenfreado,
Amor sem limites,
Amor em todas suas formas possíveis,
Em todas as formas em que éramos compatíveis.

Acoplados com a perfeição de dois módulos espaciais,
Onde qualquer erro milimétrico,
Compromete o sucesso da missão...

Missão cumprida...

A missão foi um sucesso total,
Pois dois corpos tornaram-se um!
Não mais existia eu e você,
Mas, sim, eu-você...

Cometemos um crime perfeito!

Simone Barbariz

Foto:Basil Gromov

quarta-feira, 28 de abril de 2010



Estranhem o que não for estranho.
Tomem por inexplicável o habitual.
Sintam-se perplexos ante o cotidiano.
Tratem de achar um remédio para o abuso
Mas não se esqueçam de que o abuso é sempre a regra.



Dê-me tua mão

Dê-me tua mão e dançaremos;
dê-me tua mão e me amarás.
como uma flor seremos
como uma flor e nada mais ...
O mesmo verso cantaremos,
no mesmo passo dançarás.
Como uma espiga ondularemos
como uma espiga e nada mais.
Te chamas ........ e eu, Esperança;
porém, teu nome esquecerás,
porque seremos uma dança
na montanha e nada mais ...

terça-feira, 27 de abril de 2010

Amor, pois que é palavra essencial



Amor – pois que é palavra essencial
comece esta canção e toda a envolva.
Amor guie o meu verso, e enquanto o guia,
reúna alma e desejo, membro e vulva.

Quem ousará dizer que ele é só alma?
Quem não sente no corpo a alma expandir-se
até desabrochar em puro grito
de orgasmo, num instante de infinito?

O corpo noutro corpo entrelaçado,
fundido, dissolvido, volta à origem
dos seres, que Platão viu completados:
é um, perfeito em dois; são dois em um.

Integração na cama ou já no cosmo?
Onde termina o quarto e chega aos astros?
Que força em nossos flancos nos transporta
a essa extrema região, etérea, eterna?

Ao delicioso toque do clitóris,
já tudo se transforma, num relâmpago.
Em pequenino ponto desse corpo,
a fonte, o fogo, o mel se concentraram.

Vai a penetração rompendo nuvens
e devassando sóis tão fulgurantes
que nunca a vista humana os suportara,
mas, varado de luz, o coito segue.

E prossegue e se espraia de tal sorte
que, além de nós, além da própria vida,
como ativa abstração que se faz carne,
a idéia de gozar está gozando.

E num sofrer de gozo entre palavras,
menos que isto, sons, arquejos, ais,
um só espasmo em nós atinge o climax:
é quando o amor morre de amor, divino.

Quantas vezes morremos um no outro,
no úmido subterrâneo da vagina,
nessa morte mais suave do que o sono:
a pausa dos sentidos, satisfeita.

Então a paz se instaura. A paz dos deuses,
estendidos na cama, qual estátuas
vestidas de suor, agradecendo
o que a um deus acrescenta o amor terrestre.

Carlos Drummond de Andrade

Foto:Sergey Ryzhkov

Dança



Eu me lembro de teu corpo
Esgueirando-se sensual
Pela gula de meu olhar.
No compasso rítmico,
Sibilando,
Trazendo para mim
Tua arte feita de carne.
Degusto na memória,
Ansioso,
O arfar de teus seios
E o suor de tua face.
Que gozo escondia teu sorriso?

Paulo Mont'Alverne

domingo, 25 de abril de 2010


Variações sobre flores

Entre as orquídeas
Os teus lábios entreabertos
Carnudos, vermelhos, tentadores
São a mais bela flor.
Bem os vejo,
Beija flor sedento,
Mas quando beijá-los tento
O vôo, o mel, o sonho perdi.
Enorme é a distância
Da realidade, do mar, de ti....
Que tão próxima
Jamais conheci.

sábado, 24 de abril de 2010

O amor é que é essencial




O AMOR é que é essencial.
O sexo é só um acidente.
Pode ser igual
Ou diferente.
O homem não é um animal:
É uma carne inteligente,
Embora às vezes doente.

Fernando Pessoa

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Palavras



Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca,
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto,
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído,
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.

Alexandre O'Neill

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Cosmocópula



I

Membro a pino
dia é macho
submarino
é entre coxas
teu mergulho
vício de ostras

II

O corpo é praia a boca é a nascente
e é na vulva que a areia é mais sedenta
poro a poro vou sendo o curso da água
da tua língua demasiada e lenta
dentes e unhas rebentam como pinhas
de carnívoras plantas te é meu ventre
abro-te as coxas e deixo-te crescer
duro e cheiroso como o aloendro.

Natália Correia

Quem?...



Não sei quem és. Já te não vejo bem...
E ouço-me dizer ( ai, tanta vez!...)
Sonho que um outro sonho me desfez?
Fantasma de que amor? Sombra de quem?

Névoa? Quimera? Fumo? Donde vem?...
- Não sei se tu, Amor, assim me vês!...
Nossos olhos não são nossos, talvez...
Assim, tu não és tu! Não és ninguém!...

És tudo e não és nada... És a desgraça...
És quem nem sequer vejo; és um que passa...
És o sorriso de Deus que não mereço...

És Aquele que vive e que morreu...
És Aquele que é quase um outro Eu...
És Aquele que nem sequer conheço...

Florbela Espanca

Foto:X Maia

quarta-feira, 21 de abril de 2010

INSONIA
 INSONIA

Nas noites de insónia

converso contigo.

Questionas a eito

com esse teu jeito.

e eu, como a um amigo,

confio-te ainda

os meus pensamentos,

partilho momentos.

Analisas meus medos,

escutas segredos,

mas não vês o rio

que corre pelas faces,

nem sentes o frio

da falta do abraço.

Este ténue laço

de que tenho uma ponta,

solitária e tonta,

flutua a outra no espaço

sem tua mão, sem teu calor.

Porque nos perdemos, amor?

terça-feira, 20 de abril de 2010

Soneto de amor



Não me peças palavras, nem baladas,
Nem expressões, nem alma...Abre-me o seio,
Deixa cair as pálpebras pesadas,
E entre os seios me apertes sem receio.

Na tua boca sob a minha, ao meio,
Nossas línguas se busquem, desvairadas...
E que os meus flancos nus vibrem no enleio
Das tuas pernas ágeis e delgadas.

E em duas bocas uma língua..., - unidos,
Nós trocaremos beijos e gemidos,
Sentindo o nosso sangue misturar-se.

Depois... - abre os teus olhos, minha amada!
Enterra-os bem nos meus; não digas nada...
Deixa a Vida exprimir-se sem disfarce!

José Régio

Foto retirada do Google

domingo, 18 de abril de 2010

Nocturno de Chopin



Gosto de juntar palavras
no teu corpo
ouvir da tua voz
o sangue em fogo

Sentir a tua seiva a borbulhar
uma prece sedenta
em turbilhão
um jacto de magia

Beber dum trago voraz
as tuas carnes
depois cozer poemas
por parir

Misturar as tuas juras
nos meus dedos
deixar sílabas loucas
nas encostas

Depois acordar na alvorada
ver o teu torso nu adormecido
e saber que não foi sexo nem desejo
apenas um nocturno de Chopin.

Luís Graça

Foto:Stefan Beutler

sábado, 17 de abril de 2010

Sábado, Abril 17, 2010



"Não sei por que todos me adoram se ninguém entende minhas idéias."

Albert Einstein

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Teu corpo claro e perfeito



Teu corpo claro e perfeito,

– Teu corpo de maravilha,
Quero possuí-lo no leito
Estreito da redondilha...

Teu corpo é tudo o que cheira...
Rosa... flor de laranjeira...

Teu corpo, branco e macio,
É como um véu de noivado...

Teu corpo é pomo doirado...

Rosal queimado do estio,
Desfalecido em perfume...

Teu corpo é a brasa do lume...

Teu corpo é chama e flameja
Como à tarde os horizontes...

É puro como nas fontes
A água clara que serpeja,
Quem em antigas se derrama...

Volúpia da água e da chama...

A todo o momento o vejo...
Teu corpo... a única ilha
No oceano do meu desejo...

Teu corpo é tudo o que brilha,
Teu corpo é tudo o que cheira...
Rosa, flor de laranjeira...

Manuel Bandeira

Foto:Miles Morgan

quarta-feira, 14 de abril de 2010

direccionado.......

De onde chegam estas palavras?



-De onde me chegam estas palavras?

Nunca houve palavras para gritar a tua ausência

Apenas o coração
Pulsando a solidão antes de ti
Quando o teu rosto dóia no meu rosto
E eu descobri as minhas mãos sem as tuas
E os teus olhos não eram mais
que um lugar escondido onde a primavera
refaz o seu vestido de corolas.

E não havia um nome para a tua ausência.

Mas tu vieste.

Do coração da noite?
Dos braços da manhã?
Dos bosques do Outono?

Tu vieste.
E acordas todas as horas.
Preenches todos os minutos.
acendes todas as fogueiras
escreves todas as palavras.

Um canto de alegria desprende-se dos meus dedos
quando toco o teu corpo e habito em ti
e a noite não existe
porque as nossas bocas acendem na madrugada
uma aurora de beijos.

Oh, meu amor,
doem-me os braços de te abraçar,
trago as mãos acesas,
a boca desfeita
e a solidão acorda em mim um grito de silêncio quando
o medo de perder-te é um corcel que pisa os meus cabelos
e se perde depois numa estrada deserta
por onde caminhas nua.

Joaquim Pessoa

Foto:Michael Vahle

Em teus braços



Em teus braços,
Quantas vezes...
Me perdi e me encontrei!
Em teus olhos,
Quantas vezes...
Me entristeci e me esperancei!
Em tua cama,
Quantas vezes,
Me despedacei e me alegrei!
Meu espírito! Teu espírito!
Minha boca! Tua boca!
Meu gozo! Teu gozo!
Impossível esquecer!

Cristiane França

Foto:Joris Van Daele

Crime



Testemunhas: as quatro paredes.
Local do crime: a cama.
Réus: eu e você.
Crime cometido: amor louco e desenfreado,
Amor sem limites,
Amor em todas suas formas possíveis,
Em todas as formas em que éramos compatíveis.

Acoplados com a perfeição de dois módulos espaciais,
Onde qualquer erro milimétrico,
Compromete o sucesso da missão...

Missão cumprida...

A missão foi um sucesso total,
Pois dois corpos tornaram-se um!
Não mais existia eu e você,
Mas, sim, eu-você...

Cometemos um crime perfeito!

Simone Barbariz

Foto:Basil Gromov

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Amor, pois que é palavra essencial



Amor – pois que é palavra essencial
comece esta canção e toda a envolva.
Amor guie o meu verso, e enquanto o guia,
reúna alma e desejo, membro e vulva.

Quem ousará dizer que ele é só alma?
Quem não sente no corpo a alma expandir-se
até desabrochar em puro grito
de orgasmo, num instante de infinito?

O corpo noutro corpo entrelaçado,
fundido, dissolvido, volta à origem
dos seres, que Platão viu completados:
é um, perfeito em dois; são dois em um.

Integração na cama ou já no cosmo?
Onde termina o quarto e chega aos astros?
Que força em nossos flancos nos transporta
a essa extrema região, etérea, eterna?

Ao delicioso toque do clitóris,
já tudo se transforma, num relâmpago.
Em pequenino ponto desse corpo,
a fonte, o fogo, o mel se concentraram.

Vai a penetração rompendo nuvens
e devassando sóis tão fulgurantes
que nunca a vista humana os suportara,
mas, varado de luz, o coito segue.

E prossegue e se espraia de tal sorte
que, além de nós, além da prórpia vida,
como ativa abstração que se faz carne,
a idéia de gozar está gozando.

E num sofrer de gozo entre palavras,
menos que isto, sons, arquejos, ais,
um só espasmo em nós atinge o climax:
é quando o amor morre de amor, divino.

Quantas vezes morremos um no outro,
no úmido subterrâneo da vagina,
nessa morte mais suave do que o sono:
a pausa dos sentidos, satisfeita.

Então a paz se instaura. A paz dos deuses,
estendidos na cama, qual estátuas
vestidas de suor, agradecendo
o que a um deus acrescenta o amor terrestre.
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Carlos Drummond de Andrade

Foto:Stanmarek



Tu ainda estais aí

Tu ainda estais aí
atrás de teu nome
perdida no caminho que se estende até o desejo
nas ausências que caem da noite
ao lado da xícara de café que enumera o abismo.
Os relógios dormiam retardando o amanhecer
e as palavras brilhavam nos teus olhos
buscando as portas do exílio
as sombras que inscreviam teu ser
e o medo que umedecia tuas ideias.
Tu ainda estais aí
atrás de teu nome
o mundo na valise
e o rio de Heráclito em suas mãos
sob as horas que emaranham as recordações.
Sentada aí
passavam os espelhos que cobriam tua voz
os horizontes,
as pedras que alimentavam teu sangue
as imagens que teciam o tempo.
A poesia estalava sob o luar de Empédocles
e te abria a porta de fogo
onde buscavas teu corpo atrás do nome.
Foi apenas uma palavra que caiu do enigma
quando os olhos da memória te viram esta noite.
Tu ainda estais aí
atrás de teu nome.


Rosa com espinhos



Uma rosa cresce na tua ausência. Não
a posso colher, a essa rosa vermelha que
incendeia a secura dos meus olhos. Limito-me
a vê-la, a rosa do centro, na sua rotação
de sentimentos e hesitações. Embarco
no rumo que ela me indica. Sei
que me conduzirá para o porto dos teus
braços, onde ainda estremecem as marés
do amor.

Mas se a tua ausência me oferece
esta rosa, de que me servem os seus
espinhos? Lambo devagar as suas
feridas, sentindo correr pela minha alma
o sangue fresco da tua voz: a voz que abranda
quando o fogo se apaga, e de cuja
brancura se soltam os ventos que empurram
o desejo. Levam-me para
os teus lábios, a quem a rosa
roubou a mais pura cor.

Abraço então o teu corpo de flor, roubando
à rosa o gozo da sua dor.

Nuno Júdice

sábado, 10 de abril de 2010

Erótica



A noite descia
como um cortinado
sobre a erva fria
do campo orvalhado.
e eu (fauno em vertigem)
a rondar em torno
do teu corpo virgem,
sonolento e morno,
pensava no lasso
tombar do desejo;
em breve, o cansaço
do último beijo...
E no modo como
sentir menos fácil
o maduro pomo
do teu corpo grácil:
ou sem lhe tocar
– de tanto o querer! –
ficar a olhar,
até o esquecer,
ou como por entre
reflexos do lago,
roçar-lhe no ventre
luarento afago;
perpassando os meus
nos teus lábios húmidos,
meu peito nos teus
brancos
seios
túmidos...

Carlos Queirós

Foto:Tamaki Obuchi

Nas ervas



Escalar-te lábio a lábio,
percorrer-te: eis a cintura
o lume breve entre as nádegas
e o ventre, o peito, o dorso
descer aos flancos, enterrar

os olhos na pedra fresca
dos teus olhos,
entregar-me poro a poro
ao furor da tua boca,
esquecer a mão errante
na festa ou na fresta

aberta à doce penetração
das águas duras,
respirar como quem tropeça
no escuro, gritar
às portas da alegria,
da solidão.

porque é terrivel
subir assim às hastes da loucura,
do fogo descer à neve.

abandonar-me agora
nas ervas ao orvalho -
a glande leve.

Eugénio de Andrade

Foto:Sergey Ryzhkov

sexta-feira, 9 de abril de 2010


Poema de amor nocturno

Jorge Carrasco




Porém te contagiastes de mim, o prova minhas sinuosas setas,
postas como corrediças de ouro trêmulos em tuas costas,
tuas moitas abertas para encontrar o ninho morno:
eu procuro tua cavidade para morrer na sombra que supura.
Escolhe, amada, minha última estocada, dei adeus a tua vida
em três minutos, morre, morre de uma vez
abaixo do meu leite fervente, sob o esquecimento
de quem neste segundo solta um imenso gemido de guitarra.
Vamos, pois, prepara o suspiro, o grito
que te salva do sufoco imemorial, o vibrar
ondulante que fere todos os ares, todas as formas,
tudo o que cai no tremor e não regressa.
Vamos, usa tua língua como escudo, na correnteza
dos insetos escapados de teus membros:
aqui vai um suspiro eivado com milhares de espadas
de meu orgulhoso centro ao encontro de teu centro suplicante.

O silêncio



Dos corpos esgotados que silêncio
tão apaziguador se levantava!

(Tinha uma rosa triste nos cabelos,
uma sombra na túnica de luz...)

Para o fundo das almas caminhava,
devagar, o sonâmbulo silêncio.

(Que apertados anéis nos braços nus!)

Mas o silêncio vinha desprendê-los.

David Mourão-Ferreira

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Coisas mal resolvidas



Foto:Misha Gordin

Existem vários casos mal resolvidos
E crimes insolúveis
Várias cartas não respondidas
Telefonemas mal explicados
Mal entendidos absurdos
Recados de terceiros
Cheques de terceiros
Cobradores em sua porta
Telemarketing de agencias de cobrança
Ervas daninhas em sua horta
Amizades coloridas
Quereres sem cor
Paixões assentadas em túmulos expostos
Livros largados na metade
Verdades sem pudor
Argumentos não assimilados
Ressacas persistentes, granidos de dentes
Falta de juízo,
falta de siso
ausência destes.
Sujeiras embaixo do tapete
Visitas não desejadas
Revistas pornográficas na sala de estar
Comidas sem tempero, sem sal
Mal hálito
Olhares de canto-de-olho
Desconfianças, alianças por interesse e sem interesse
Filmes que acabam antes das fotos
Fotos queimadas na revelação
Coisas perdidas
Feridas que coçam
Decepções, esperanças, crenças, desilusões
Mandingas, macumbas, rezas, orações
Aflições, desejos, sugestões, lamentações
Discriminação, preconceitos, raiva
Desrespeitos, desculpas, desculpas
Fodas mal dadas, gozos interrompidos,
Ejaculações precoces
Beijos quadrados
Sem tesão
Vidas perdidas, vidas cruzadas,
vidas públicas, vidas privadas
vidas rivais, reencontros
no tempo, espaço ...
Dúvidas que aceleram cardiacamente
O que está iminente, passível, possível
Se resolvendo num século ou num desatino
Suspense, non-sense, susto, trilha dos sentidos
Destino..., destino..., destino..., destino...,
destino..., destino,....

Umberto Mauro

quarta-feira, 7 de abril de 2010






O peso do tempo

Aprendi o caminho das sombras
Enquanto olhava a luz da vida.
Tudo era incerteza
-Isto creio- e dia após dia,
Ano após ano,
Fui lutando a batalha
Com este uniforme que chamam homem.

Porém, o tempo pesa,
Tem raízes profundas
Que se cravam na alma.

E é agora
A hora de minha transmutação.

De que me serve tanto sistema
Metricamente calculado?

Se só me anima
O murmúrio do mar,
O canto de um pássaro,
O sorriso de uma criança
E o calor de um beijo
Ainda que seja de distante.

segunda-feira, 5 de abril de 2010



Muito pouco

Não há muitas coisas que posso te dar
Fora a promessa de que sou confiável
E, qual as marés - mesmo se fugidio, volto,
E, igual a elas, por mais que destrua,
Costumo levar comigo os destroços,
Embora tenha a desvantagem real
De não te oferecer o canto das sereias

sábado, 3 de abril de 2010





O livro dos amantes II



Harmonioso vulto que em mim se dilui.
Tu és o poema e és a origem donde ele flui.
Intuito de ter. Intuito de amor
não compreendido.
Fica assim amor. Fica assim intuito.
Prometido.

Natália Correia

Foto:Paul Bolk

Ó Véspera do Prodígio! - IV



Creio nos anjos que andam pelo mundo,
Creio na Deusa com olhos de diamantes,
Creio em amores lunares com piano ao fundo,
Creio nas lendas, nas fadas, nos atlantes,

Creio num engenho que falta mais fecundo
De harmonizar as partes dissonantes,
Creio que tudo é eterno num segundo,
Creio num céu futuro que houve dantes,

Creio nos deuses de um astral mais puro,
Na flor humilde que se encosta ao muro,
Creio na carne que enfeitiça o além,

Creio no incrível, nas coisas assombrosas,
Na ocupação do mundo pelas rosas,
Creio que o Amor tem asas de ouro. Ámen.

Natália Correia

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Logica amorosa.....


O absurdo é que insistem
Em que a menor distância
Entre dois pontos
É uma linha reta
Ignorando a atração
De nossos corpos
Na razão inversa
Da paixão e da distância.

Beijo teus seios.
Percorro retamente as curvas
Que me encaminham ao triângulo
Da perdição e do prazer
Para descobrir que ser sábio
É nada saber
E sim descobrir a delícia de teu corpo
Pelo gosto.

Gemidos, gritinhos
E o êxtase sabido e inesperado
Que nos torna crianças
Lambuzando-se no mais delicioso doce,
Infantis
Na brincadeira mais feliz....

Inútil explicações...
Sobre a inutilidade da beleza de teus quadris.
Tudo em ti foi feito para amar
E só te amando me sinto feliz!

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Se não és um fantasma,
Se não tenho ilusão,
Por favor,
Não, não diga nada,
Nada de explicação.
Me dá só tua mão,
Me olha com o mesmo olhar
Que vou por a música pra tocar.
Só te dou permissão
Para um copo de vinho,
Um carinho, um beijo, talvez,
Antes de dançar.
Como pode ser a última vez
Só preciso que saiba
Que, hoje, me fez
Muito feliz.