Todos os dias se escrevem milhares de poemas 
em bilhetes de autocarro em guardanapos dos cafés nos mais variados cadernos 
e acabam em pastas nas gavetas ou no computador ou no cérebro 
A maioria como este se não nesse dia passados alguns meses ou anos 
acaba no caixote do lixo 
Um dia acordas de repente e o que não fazia sentido passou a fazê-lo 
ou o que fazia sentido deixou de o fazer 
palavras trocam de lugar vogais e consoantes engalfinham-se 
o que não rimava passou a rimar 
ou a navegar ou a voar ou a rastejar 
alguns poemas erguem-se na página em branco 
E corres a procurá-los no caixote do lixo entre os restos da última refeição 
que por acaso foi de peixe 
mas o camião do lixo acabara de passar 
Todos os dias se escrevem milhares de poemas
Jorge Sousa Braga
 
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