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quinta-feira, 24 de abril de 2025

De: António Gedeão

 As Janelas do quarto de António Gedeão


De: António Gedeão



"As janelas do meu quarto"


Tenho quarenta janelas,
nas paredes do meu quarto,
sem vidros nem bambinelas,
posso ver através delas,
o mundo em que me reparto.

Por uma entra a luz do sol,
por outra a luz do luar,
por outra a luz das estrelas,
que andam no céu a rolar.

Por esta entra a Via Láctea,
como um vapor de algodão,
por aquela a luz dos homens,
pela outra a escuridão.

Pela maior entra o espanto,
pela menor a certeza,
pela da frente a beleza,
que inunda de canto a canto.

Pela quadrada entra a esperança,
de quatro lados iguais,
quatro arestas, quatro vértices,
quatro pontos cardeais.

Pela redonda entra o sonho,
que as vigias são redondas,
e o sonho afaga e embala,
à semelhança das ondas.

Por além entra a tristeza,
por aquela entra a saudade,
e o desejo, e a humildade,
e o silêncio, e a surpresa.

E o amor dos homens, e o tédio,
e o medo, e a melancolia,
e essa fome sem remédio,
a que se chama poesia.

E a inocência, e a bondade,
e a dor própria, e a dor alheia,
e a paixão que se incendeia,
e a viuvez, e a piedade.

E o grande pássaro branco,
e o grande pássaro negro,
que se olham obliquamente,
arrepiados de medo.

Todos os risos e choros,
todas as fomes e sedes,
tudo alonga a sua sombra,
nas minhas quatro paredes.

Oh janelas do meu quarto,
que vos pudesse rasgar,
com tanta janela aberta,
falta-me a luz e o ar.




terça-feira, 22 de abril de 2025

NO PORTO

 No Porto, um bêbado estava a passar pelo rio Douro, quando viu um grupo de evangélicos a orar e a cantar. Resolveu perguntar:


- O que se está a passar... hic... aqui?
- Estamos a fazer um baptismo nas Águas. Você também deseja encontrar o Senhor?
- Hic... Eu quero, sim...

Os evangélicos vestiram o bêbado com uma roupa branca e levaram-no para a fila.

Numa margem do rio estava um pastor que pegava nos fieis, mergulhava a cabeça deles na água, depois tirava e perguntava:

- Irmão... viste Jesus?
- Ah, eu vi, sim...

E todos os evangélicos diziam:
- Aleluia! Aleluia!

Quando chegou a vez do bêbado, o pastor meteu-lhe a cabeça na água, depois tirou e perguntou-lhe:

- Irmão... viste Jesus?
- Num bi! - Disse o bêbado.

O pastor colocou novamente a cabeça do bêbado na água e deixou-a lá um certo tempo. Depois tirou-a e perguntou:

- E agora, irmão.. viste Jesus?
O bêbado já bastante ofegante, lá disse:
- Num bi!

O pastor, já nervoso, colocou de novo a cabeça do bêbado debaixo de água e deixou-a lá por uns cinco minutos. Depois puxou o bêbado e perguntou-lhe:

- E agora, irmão.. já conseguiste ver Jesus?
O bêbado, já mole e trôpego de tanta água engolir, disse:

- Fuoda-se , já disse que não, carago! Bocês têm a certeza de que ele caiu aqui????...




Bicentenário de Camilo

 Ele foi um dos maiores romancistas portugueses do século XIX, autor de obras marcantes como Amor de Perdição, A Queda de um Anjo e A Brasileira de Prazins. Camilo escreveu mais de 260 obras, incluindo romances, contos, peças de teatro, ensaios e traduções. A sua obra influenciou as gerações posteriores e continua a ser estudada e adaptada para cinema, teatro e televisão. Foi um dos primeiros escritores portugueses a viver exclusivamente da escrita, apesar das dificuldades financeiras constantes.









"Como poucos autores portugueses canónicos (num espectro que vai de Gil Vicente  a Alexandre O'Neill), Camilo era um escritor divertido, hilariante mesmo,  como nem os comediógrafos portugueses conseguiram ser"                                                                        Pedro Mexia, Expresso de 07/03/2025

O PAPA..............

 

Apr

Foto: Pablo Leguizamon/AP


Morreu Jorge Mario Bergoglio, o Argentino que, sob o nome de Francisco, assumiu a cadeira de Pedro e presidiu à Comunhão das Igrejas. 

Aquando da sua eleição para presidir aos destinos da Igreja, escrevi: "A Igreja necessita, rapidamente, de sair da reclusão a que se confinou entre as paredes da Cidade Eterna. Com o meu bom amigo Leonel Oliveira, da Comunidade de Fradelos, descobri o sentido teologal da “Esperança”, essa sobre a qual Charles Péguy escreveu: “La foi que j’aime le mieux, dit Dieu, c’est l’espérance […] Cette petite fille espérance. Immortelle." Hoje, mais do que nunca, urge revisitar Péguy." 

Francisco renovou essa Esperança, fundada nos actos que deram forma ao seu sentido pastoral - a sua primeira visita foi Lampedusa, a ilha dos refugiados e dos despojados - e na vontade de recuperar o processo de "aggiornamento" iniciado pelo bom João XXIII no Concílio Vaticano II. Nos gestos de Francisco encontrei, sobretudo, a busca da simplicidade e da dimensão humana que caracterizaram Aquele que lhe servia de exemplo. 

Francisco partiu após a celebração da Páscoa que marca a passagem da morte para a vida. Na benção Urbi et Orbi de ontem, deixou-nos uma última mensagem perpassada por essa mesma Esperança: "Graças a Cristo crucificado e ressuscitado, a esperança não engana! Spes non confundit!. E não se trata duma esperança evasiva, mas comprometida; não é alienante, mas responsabilizadora”, que nos convoca a sermos “peregrinos de esperança". Dir-se-ia que as suas derradeiras palavras na benção de ontem foram um prenúncio: "Entreguemo-nos a Ele, o único que pode renovar todas as coisas.” 

Sobreviveu à Travessia do Deserto quaresmal e à noite da Paixão, projectando-se morte adentro na Luz do Círio Pascal. A pneumonia roubou-lhe um pulmão e por fim a vida, mas a sua vida é uma expressão da pneumatologia do teólogo Yves Congar: uma vida repleta de gestos perpassados pela "inefáveis gemidos do Espírito", Esse que Congar dizia “agir fora dos limites visíveis e oficiais da Igreja”. 

Recordá-lo-ei como um exemplo supremo de Luz e do “ruah” que acredito habitar o corpo místico de Cristo: um homem do mundo, atento aos Sinais do Tempo. 


RA

segunda-feira, 21 de abril de 2025

O PADRE e a PECADORA.....

 O Padre e a Pecadora




- Padre, perdoa-me porque pequei (voz feminina)

- Diga-me filha - quais são os teus pecados?

- Padre, o demónio da tentação se apoderou de mim, pobre pecadora.

- Como é isso filha?

- É que quando falo com um homem, tenho sensações no corpo que não saberia descrever...

- Filha, apesar de padre, eu também sou um homem...

- Sim, padre, por isso vim confessar-me contigo.

- Bem filha, como são essas sensações?

- Não sei bem como explicá-las - neste momento meu corpo se recusa a ficar de joelhos e necessito ficar mais a vontade.

- Sério??

- Sim, desejo relaxar - o melhor seria deitar-me...

- Filha, deitada como?

- De costas para o piso, até que passe a tensão...

- E que mais?

- É como um sofrimento que não encontro palavras.

- Continue minha filha.

- Talvez um pouco de calor me alivie...

- Calor?

- Calor padre, calor humano, que leve alívio ao meu padecer...

- E com que frequência é essa tentação?

- Permanente padre. Por exemplo, neste momento imagino suas mãos massajando a minha pele me dariam muito alívio...

- Filha?!

- Sim padre, me perdoa, mas sinto necessidade de que alguém forte me estreite em seus braços e me dê o alívio de que necessito...

- Por exemplo, eu?

- Sim padre, você é a categoria de homem que imagino poder me aliviar.

- Perdoa-me minha filha, mas preciso saber tua idade...

- Setenta e quatro, padre.

- Minha Filha, vai em paz ......... o teu problema é reumatismo...




quinta-feira, 17 de abril de 2025

POESIA

 

17 de Abril

 


Hoje, neste 17 de abril,

Talvez eu não responda por mim.

Quem sabe seja

o efeito da cerveja,

a sensação de que já vivi,

dez mil anos atrás,

e, agora, já não vivo mais

ainda que meu sangue

esteja correndo

e o coração acelerado

me chamando de culpado

por não ter as onze mil virgens

prometidas para o paraíso,

aqui, na terra nunca prometida

e sempre amada.

Continuo a ter a sensação

de ser tão puro

quando cantava nos corais de igreja

e tinha certeza,

menino na fé ungido,  

que seria protegido,

quando dizia Deus me proteja.

Com a crença forte

de que prolongava a vida dos seus

e abreviava a dos ímpios,

não temia a morte,

bem sabia que mil poderiam cair do meu lado,

dez mil à minha direita,

nada me atingiria.

Hoje ainda,

antes de deitar,

hei de rezar

para o meu anjo da guarda,

mas o que está a me perturbar,

lembrando de você,

é que sinto uma vontade danada

de pecar!


segunda-feira, 14 de abril de 2025

POESIA

 




Um sossego mais largo 
Que o esquecimento dos homens 
Me seja a morte... 
Como um veleiro abandonado 
No silêncio do mar; 
Como, antes do Tempo, 
Como, depois do Tempo, 
O não haver ninguém para o contar... 

Como não ter existido 
Me seja a morte! 
Mas não já...


Reinaldo Ferreira




sexta-feira, 11 de abril de 2025

.........................

 Isto é que é fidelidade...



Minha mulher me perguntou:

- Com quantas mulheres você já dormiu ?

Orgulhosamente, respondi:

- Só contigo, meu amor. Com as outras, fiquei acordado...




quarta-feira, 9 de abril de 2025

Mario Lanza - Ave Maria




MÁRIO LANZA - AVÉ MARIA
Veja se descobre quem é o miúdo que canta ao lado de Mário Lanza... Pois, é esse mesmo: Luciano Pavarotti.

Uma poesia de Scottie McKenzie Frasier

 

Uma poesia de Scottie McKenzie Frasier


 

THE THINGS I LOVE

Scottie McKenzie Frasier



A butterfly dancing in the sunlight,

A bird singing to his mate,

The whispering pines,

The restless sea,

The gigantic mountains,

A stately tree,

The rain upon the roof,

The sun at early dawn,

A boy with rod and hook,

The babble of a shady brook,

A woman with her smiling babe,

A man whose eyes are kind and wise,

Youth that is eager and unafraid-

When all is said, I do love best

A little home where love abides,

And where there’s kindness, peace, and rest.


AS COISAS QUE EU AMO


Uma borboleta dançando sob a luz do sol,

Um pássaro cantando para sua companheira,

Os sussurros dos pinheiros,

A inquietude do mar,

As gigantescas montanhas,

Uma imponente árvore,

A chuva no telhado,

O sol ao amanhecer,

Um menino com vara e anzol,

O balbucio de um riacho sombrio,

Uma mulher com seu bebê sorridente,

Um homem cujos olhos são bons e sábios,

A juventude ansiosa e destemida-

Quando tudo for dito, eu posso amar mais

Uma pequena casa onde o amor habita,

E onde há bondade, paz e descanso.

Ilustração: Expatriada por Amor.

terça-feira, 8 de abril de 2025

POESIA

 

Manhã em Azul

 


Despertar em abril

com o aroma do café e dos jasmins

inundando as narinas

num notável silêncio sob um céu profundamente azul.


Despertar com o sol, febril, com o gosto de vida na boca 

pedindo mais carinhos, mais beijos, mais amor.


Despertar como um deus, invencível, 

se sentindo imortal, doce, maduro,

capaz de usufruir todas as paixões


com a esperança de ser 

eternamente feliz. 

sábado, 5 de abril de 2025

POESIA

 

É Tudo Mentira, Meu Amor

 


É mentira, amor,

que tenha feito poesia para outra, 

qualquer outra.

Na poesia que fiz 

os olhos eram de céu e mar?

A poesia, meu amor, é traiçoeira,

exige rimas, arrodeios, figuras, 

expressões passageiras, 

e teus olhos, certas horas,  parecem 

ser de céu ou mar.

É preciso que saibas

que, mesmo em outras, 

muitas vezes, percebo tua beleza

e, talvez, agindo contra a natureza

outra tenha festejado. 

Coisas tolas, escrevo e escrevi, 

mas, tudo mentira, errei e tenho errado, 

porque só faço versos de verdade 

quando penso em ti. 

Ilustração: Flickr. 

terça-feira, 1 de abril de 2025

POESIA

 




Todos os dias se escrevem milhares de poemas 
em bilhetes de autocarro em guardanapos dos cafés nos mais variados cadernos 
e acabam em pastas nas gavetas ou no computador ou no cérebro 
A maioria como este se não nesse dia passados alguns meses ou anos 
acaba no caixote do lixo 

Um dia acordas de repente e o que não fazia sentido passou a fazê-lo 
ou o que fazia sentido deixou de o fazer 
palavras trocam de lugar vogais e consoantes engalfinham-se 
o que não rimava passou a rimar 
ou a navegar ou a voar ou a rastejar 
alguns poemas erguem-se na página em branco 

E corres a procurá-los no caixote do lixo entre os restos da última refeição 
que por acaso foi de peixe 
mas o camião do lixo acabara de passar 

Todos os dias se escrevem milhares de poemas


Jorge Sousa Braga




Abadia de Kylemore, Irlanda