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sexta-feira, 29 de novembro de 2024
quarta-feira, 27 de novembro de 2024
________Carlos Drummond de Andrade
Sexo é muito bom.
Mas vocês já fizeram amor?
Sexo é o começo.
Amor é o que ainda fica
Depois do fim.
Amor é corpo e alma.
Sexo é na hora.
Amor é antes, durante e depois.
Sexo acaba quando termina.
Amor continua.
Sexo vai.
Amor fica.
Sexo tem pressa.
Amor retarda, prolonga.
Sexo é experiência.
Amor é vivência.
Sexo é singular.
Amor é plural.
Sexo pode ser banal, casual.
Amor é uma entrega surreal.
Sexo é carne, tesão.
Amor é pele, explosão e coração.
Sexo confunde.
Amor te dá certeza.
Sexo é imaginação.
Amor é realização.
Sexo é pra qualquer um.
Amor só com um.
Sexo faz parte.
Amor...
Ah, o amor!
É pra quem tem sorte ...
..
.
________Carlos Drummond de Andrade
segunda-feira, 25 de novembro de 2024
Ney Matogrosso - Por Debaixo dos Panos.
NEY MATOGROSSO - POR DEBAIXO DOS PANOS (1982)
Um dos intérpretes brasileiros mais produtivos, nascido em 1941 cedo revelou os seus dotes de artista a cantar, pintar e interpretar. Mais tarde foi coreógrafo, bailarino, iluminador, o Director Geral dos seus espectáculos: "Eu Sou o Espectáculo". A coreografia é erotizante e expõe a sua masculinidade em contraponto aos tempos de chumbo.
Sophia de Mello Breyner Andresen
Nov
O poema me levará no tempo
Quando eu não for a habitação do tempo
E passarei sozinha
Entre as mãos de quem lê
O poema alguém o dirá
Às searas
Sua passagem se confundirá
Com o rumor do mar com o passar do vento
O poema habitará
O espaço mais concreto e mais atento
No ar claro nas tardes transparentes
Suas sílabas redondas
(Ó antigas ó longas
Eternas tardes lisas)
Mesmo que eu morra o poema encontrará
Uma praia onde quebrar as suas ondas
E entre quatro paredes densas
De funda e devorada solidão
Alguém seu próprio ser confundirá
Com o poema no tempo
Sophia de Mello Breyner Andresen
FOTO
da POETISA
quarta-feira, 20 de novembro de 2024
- Clarice Lispector ' Um Sopro de Vida '
Ela é tão livre que um dia será presa.
- Presa por quê ?
- Por excesso de liberdade.
- Mas essa liberdade é inocente ?
- É . Até mesmo ingênua.
- Porque a liberdade ofende.
domingo, 17 de novembro de 2024
in "Poesia de Álvaro de Campos"
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in "Poesia de Álvaro de Campos"
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Esta velha angústia,
Esta angústia que trago há séculos em mim,
Transbordou da vasilha,
Em lágrimas, em grandes imaginações,
Em sonhos em estilo de pesadelo sem terror,
Em grandes emoções súbitas sem sentido nenhum.
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Transbordou.
Mal sei como conduzir-me na vida
Com este mal-estar a fazer-me pregas na alma!
Se ao menos endoidecesse deveras!
Mas não: é este estar entre,
Este quase,
Este poder ser que...,
Isto.
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Um internado num manicómio é, ao menos, alguém,
Eu sou um internado num manicómio sem manicómio.
Estou doido a frio,
Estou lúcido e louco,
Estou alheio a tudo e igual a todos:
Estou dormindo desperto com sonhos que são loucura
Porque não são sonhos
Estou assim...
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Pobre velha casa da minha infância perdida!
Quem te diria que eu me desacolhesse tanto!
Que é do teu menino? Está maluco.
Que é de quem dormia sossegado sob o teu teto provinciano?
Está maluco.
Quem de quem fui? Está maluco. Hoje é quem eu sou.
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Se ao menos eu tivesse uma religião qualquer!
Por exemplo, por aquele manipanso
Que havia em casa, lá nessa, trazido de África.
Era feiíssimo, era grotesco,
Mas havia nele a divindade de tudo em que se crê.
Se eu pudesse crer num manipanso qualquer —
Júpiter, Jeová, a Humanidade —
Qualquer serviria,
Pois o que é tudo senão o que pensamos de tudo?
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Estala, coração de vidro pintado!
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Art _ Salvador Dali
sábado, 16 de novembro de 2024
FERNANDO CAMPOS de CASTRO
POESIA
NAS TUAS MÃOS
AS TUAS MÃOS AMOR SÃO COMO ASAS
ONDE INVENTO ESTE VOO SEM TER FIM
NUMA FUGA DE SONHO SOBRE AS CASAS
COM QUE CHEGO MAIS LONGE
ALÉM DE MIM
NELAS PERCORRO O TEMPO E A DISTÂNCIA
ENTRE O QUERER SER HOJE
E REGRESSAR COM TUAS MÃOS AMOR
À MINHA INFÂNCIA
DONDE NÃO TENHO PRESSA DE VOLTAR
PARA MATAR A SEDE E O DESGOSTO
E GANHARMOS DE NOVO ESSA ALEGRIA
BEBEREMOS MIL TAÇAS DE SOL POSTO
SOBRE UM MAR DE SILÊNCIO
E FANTASIA
NAS TUAS MÃOS ALADAS DE TERNURA
HEI - DE VOLTAR AO TEMPO DA PARTIDA
MAS SÓ DEPOIS AMOR DE NESTA LOUCURA
TERMOS CHEGADO LÁ LONGE
ALÉM DA VIDA .
FERNANDO CAMPOS de CASTRO
DO LIVRO " VIOLAÇÃO da NOITE " / POEMAS
PAG. 67
sexta-feira, 15 de novembro de 2024
Sophia de Mello Breyner Andresen
Nov
Há cidades acesas na distância,
Magnéticas e fundas como luas,
Descampados em flor e negras ruas
Cheias de exaltação e ressonância.
Há cidades acesas cujo lume
Destrói a insegurança dos meus passos,
E o anjo do real abre os seus braços
Em nardos que me matam de perfume.
E eu tenho de partir para saber
Quem sou, para saber qual é o nome
Do profundo existir que me consome
Neste país de névoa e de não ser.
Sophia de Mello Breyner Andresen
quinta-feira, 14 de novembro de 2024
Thomas Moore
novembro
No meio da noite, quando as estrelas choram, eu voo
Para o vale solitário que amávamos, quando a vida brilhava quente em teus olhos;
E penso muitas vezes, se os espíritos podem roubar das regiões do ar,
Para revisitar cenas passadas de deleite, você virá até mim lá,
E me diga que nosso amor é lembrado, até no céu.
Então eu canto a canção selvagem que antigamente era um prazer ouvir!
Quando nossas vozes se misturavam, respiravam como uma só, no ouvido;
E, enquanto ecoa ao longe através do vale minha triste oração rola,
Eu penso, oh meu amor! É a tua voz do Reino das Almas,
Ainda respondendo fracamente às notas que antes eram tão queridas.
Thomas Moore
quarta-feira, 13 de novembro de 2024
Luís Corredoura
Desconhecimento
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Se crês saber o que é amor, não me conheces,
Ignoras por completo quem te venera,
O que por ti a sua própria vida depaupera
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Se crês saber o que é paixão, mais mereces
Ou maior empenho de quem há muito espera
De ti obter tão-só aquilo que considera
Ser a cura do mal com que m'enlouqueces.
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Se crês saber sentir, deixa que tal me domine,
Que as tuas mãos e as minhas se orientem
P’lo teu corpo e p’lo que nele bem se define,
.
Formas nas quais certas ânsias se pressentem
Para que o que de ti quero nunca termine,
Nem que para sempre certas mágoas m’atormentem.
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Luís Corredoura dixit ©
terça-feira, 12 de novembro de 2024
Fernando Campos de Castro
Bom dia para si.
CATIVA DE UM BEIJO
Cativa dum beijo corri meio mundo
Lutei no mar alto imenso e profundo
No barco sereno da tua alegria
Passei por mil terras vendendo meus sonhos
Mas não consegui qualquer sonhador
Porque nos meus olhos cresciam tristonhos
Mil beijos cativos pelo teu amor
Cativa de um beijo que fora negado
Cansei por caminhos distantes sem fim
Mordi o silêncio nas veias dum fado
E pelo teu rosto perdi-me de mim
Lancei os meus braços a braços que ardiam
Mas não consegui prendê-los nos meus
Por que nos meus lábios mil beijos morriam
Cansados, cativos à espera dos teus
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