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sábado, 4 de maio de 2024

Nuno Júdice

 

MAY




Mas tu, a quem a noite cedeu as mais 
puras das suas imagens, e estendeste a mão 
no vazio para agarrar a que passasse mais perto 
dos teus sonhos: abre os olhos, soergue 
o teu corpo, procura no mais recôndito 
de ti a palavra que ficou perdida, nalgum 
canto da tua vida, antes que o musgo 
do tempo a apague.

Talvez seja apenas um nome, talvez 
seja o sinónimo do amor que não ousaste 
confessar, ou a resposta à pergunta que 
te fizeram e deixaste afundar-se no silêncio 
para que nada mudasse na tua vida; e 
só agora, quando a noite veio ao teu encontro, 
te lembras de que podia ter sido outra coisa, se 
tivesse sido outro o caminho. 

Podia ter sido um acaso, uma distracção, 
um olhar para longe, e de súbito não tinhas ninguém 
à tua frente. Agora, porém, volta a estender 
a mão, e agarra o que a noite traz no seu vazio, 
apenas para saberes, de novo, qual a palavra que 
não disseste, o gesto que não tiveste, o olhar 
distraído do que havia à tua volta, como se 
alguma dessas coisas pudesse mudar a tua vida.


Nuno Júdice





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