Não sei quantas almas tenho
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Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que sogue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.
Alberto Caeiro (Poeta Português, 1989-1915)
Heterónimo de Fernando Pessoa (Poeta Português, 1988-1935)
2 comentários:
Ah, eterno Fernando Pessoa!!!
Como é prazeirosa a leitura dos seus poemas, sejam eles de Alberto Caeiro, Álvaro de Campos...ou outros...
Obrigada por mais este
abraço
Um bzummmzummm da abelhinha,que espera que este fds seja cheio de sol,flores e muito mel para adoçar as nossas vidas..
bjo
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