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terça-feira, 30 de abril de 2024

Seamus Heaney

 

Maçons, quando iniciam uma construção,
Tenha o cuidado de testar o andaime;

Certifique-se de que as pranchas não escorreguem em pontos movimentados,
Fixe todas as escadas e aperte as juntas aparafusadas.

E ainda assim tudo isso acontece quando o trabalho termina
Exibindo paredes de pedra segura e sólida.

Então, se, minha querida, às vezes parece haver
Velhas pontes quebrando entre você e eu

Nunca tema. Podemos deixar os andaimes caírem
Confiantes de que construímos nosso muro.


Seamus Heaney




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O futuro é como uma cidade desconhecida por onde deambulas em busca do próximo espanto.

The future is like an unknown city where you wander in search of the next amazement.


Zorba el Griego




Não sou músico mas o que sei é que nem todo mundo toca esta música no violão...

segunda-feira, 29 de abril de 2024

DOM QUIXOTE REFORÇADO

 

DOM QUIXOTE FORÇADO



A vida inteira,

não sei se por destino ou vocação,

lutei sempre em vão, 

sempre contra a corrente

impulsionado a combater moinhos de ventos,

que me impediam, inesperadamente, 

de ser o que pensei que seria.

Por imperativo, 

por ausência de covardia, 

trilhei caminhos que não queria.

E, no fim, a realidade 

é que acabei sendo Dom Quixote, 

a combater miragens,

por falta de opção, 

e, sem mesmo um Sancho Pança à mão, 

por companhia. 

Ilustração: Cultura Genial.  

Charles Aznavour - Il Faut Savoir (1962)





É verdade que devemos manter a nossa dignidade porque a VIDA às vezes não nos poupa e sai da mesa Imenso AZNAVOUR

Juan Vicente Piqueras

 

APR

Para ti, sejas tu quem fores

Dá-me a tua mão e diz-me aonde vou. 
Leva-me tu, desconhecida, sê a neve 
debaixo dos meus passos, guarda as pegadas 
onde doam, que sejam as sementes 
do teu regresso a nossa casa, onde 
nunca vivemos, não soube 
fazer em mim um ninho para o falcão 
ferido que há em ti, que já me teme, 
receio bem, para sempre, e procura amparo 
num ar sem mim, dá-me a mão 
e diz-me: nas ervas daninhas do meu medo, 
viste um melro que quis ser a tua presa?, 
sabes quem sou? quererás um dia amar 
quem não soube amar-te e já não existe ?


Juan Vicente Piqueras












domingo, 28 de abril de 2024

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Consegues sentir o toque do que ainda será?

Can you feel the touch of what is yet to be?

sábado, 27 de abril de 2024

Lula morreu e foi para o Céu...

 Lula morreu e foi para o Céu...


 







Chegando lá, após breve entrevista, São Pedro recomendou que ele ficasse quinze dias na ala dos filósofos, para aprimorar sua cultura, já que tratava-se de um ex-presidente...

No dia seguinte, preocupado com a decisão que tinha tomado, São Pedro foi até a ala dos filósofos e, pela fresta da janela, surpreendeu Confúcio conversando com Lula.

O velho sábio estava com uma péssima aparência, mais amarelo que nunca e, profundamente irritado, dedo em riste, gritava com Lula.- Olha Lula, é a última vez que repito:- Platão não é o prato grande do Hortelino Trocaletra; - Epístola não é a mulher do apóstolo; - Eucaristia não é o aumento do custo de vida;

Cristão não é um cristo como o Redentor;
- Encíclica não é bicicleta de uma roda só;- Quem tem parte com o diabo não é diabético;- Quem trabalha na Nasa não é nazista;- Annus Domini nada tem a ver com o cu do Papa;

- E, volto a repetir, meu nome é Confúcio ... Companhêro Pafúncio é a puta que te pariu...!

Maria Teresa Horta

 

APR




Este é um poema
com saudade da festa

Dias de vermelho
de damasco e de riso

Das horas de alegria
e de bandeiras, de cravos
rubros postos no vestido

Este é um poema
feito de memória

Da pressa incontida
no passo corrido

De fala crescida
de prisões abertas, de escrita
liberta descobrindo o sentido

Este é um poema recordando
a mudança, da esperança
e do sonho acontecido

Com palavras
do corpo e de lembrança

Exigindo o futuro
a promessa e o grito

Este é um poema
cantando
a liberdade

De lágrimas costuradas
suturando o sorriso

Ousando dizer da ambiguidade
da estranheza do novo
misturado ao antigo

Este é um poema
torneando o avesso

Da luz da madrugada
de uma noz de vidro

Do voo das gaivotas
junto à pele das águas
fazendo do Tejo o seu precipício

Este é um poema
de visitar a História

Da revolução
o ganho
e também o perdido

Da viagem e do mar
da língua portuguesa
onde na paixão me encontro comigo


Maria Teresa Horta





sexta-feira, 26 de abril de 2024

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Consegues sentir o toque do que ainda será?










quinta-feira, 25 de abril de 2024

Ana Luísa Amaral

 

APR





Aprender pela minha gata 
o tom da liberdade: 
o estar quando se quer 
e o não estar quando não
- de coração sombrio 
a feliz coração 

em ronronar. 
Ah! tanta brandura há 
no seu bem-estar sem estar 
exactamente 

como eu. 
O pesadelo ausente 
da forma de se estar 
contente: uma alegria 
de ser gato 

ou gente. 
A tristeza banida? 
E o tom da liberdade? 
Feliz a tempo inteiro, 

a minha gata? 
Mas como, se as paredes 
são fechadas e as noites de miar 
uma utopia? 
Só no telhado e em pura nostalgia: 
o cheiro 

a tempo 
verdadeiro.


Ana Luísa Amaral 







quarta-feira, 24 de abril de 2024

Ne me quitte pas, Jacques Brel




É uma obra-prima de desespero e amor humano

terça-feira, 23 de abril de 2024

CATS - Memory (with lyrics)





Esta música sempre me faz pensar em todos os animais idosos em abrigos e resgatados. Parece o que eu sinto que eles devem sentir.




De SER POETA / Br.

 

Etílico Devaneio

 


Ainda que o calor seja enorme

O belo líquido que escorre, na taça,

Acorda o prazer que, em mim, dorme

E põe, no domingo, cor e graça.

Na mesa, o queijo de Canastra,

A carne, a água, o vinho, o pão,

Este mínimo de ração, que basta,

Para se ser feliz ouvindo uma canção.

A boa amizade, os gestos de carinho,

Combinam com o verde de La Mancha

Que até me sinto um Dom Quixotezinho

E ouso ver, no Lito, um Sancho Pança!

Maria Teresa Horta

 

APR




Assim... meu amor 
penetra o tempo 

as ancas devagar 
as pernas lentas 

o charco dos teus olhos 
e a laranja 
a palpitar dentro do meu ventre 

Assim... meu amor 
penetra o tempo 

a boca devagar 
os dedos lentos 

a raiva do punhal que enterras 
no sol pastoso 
do meu ventre 

Assim... meu amor 
penetra o tempo 

os rins devagar 
o espasmo lento


Maria Teresa Horta






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Entre o que de especial me acontece e acreditar que o sou, habita a subtileza de um desacerto incurável.

segunda-feira, 22 de abril de 2024

Amália Rodrigues - Lágrima






AMÁLIA RODRIGUES - LÁGRIMA



Amália não tinha estudos.Tirara apenas a instrução primária, o máximo que se poderia esperar na época e no meio social em que nasceu. Ela própria, numa segunda carta a Vitorino Nemésio, confirma isso mesmo:« Ai meu querido professor, eu nunca fui sua aluna, não tenho instrução nenhuma. Como é que posso entender o que o senhor quis dizer sem saber ler nem escrever?».

 Mas Amália era uma pessoa inteligente, intuitiva, sensível e adquiriu saber na convivência ao longo da vida. A Letra deste fado lindíssimo é de sua autoria e foi considerado pelos especialistas uma obra prima que no seu sentido profundo, à boa maneira fadista, significa: realidade/sonho/sofrimento de amor/disponibilidade para morrer» Merece ser escutado com os ouvidos da alma.

Juan Vicente Piqueras

 

APR





Para um poeta esquecido 

Tu não existes, diziam-te em pequeno. 

E procuraste o que não existe. 

Deste a tua vida a coisas que não havia. 
Não viste sequer 
o que estava a teu lado. 

Eras daquilo que não existia. 
Deste-te de antemão ao já perdido. 

Se hoje podemos dizer que exististe 
é porque durante uns anos 
respiraste o ar desta terra. 

E porque o que não existiu 
o perseguiste com poemas 
de cansada beleza onde hoje 
dás aos outros a tua voz, dás à vida 
o que não existiu, o que não tiveste.


Juan Vicente Piqueras