Amar a morte
Amar de peito aberto a morte.Não de esguelha, de frente.Amar a morte,digamos,despudoradamente.Amá-la como se amauma bela mulhere inteligente.Amá-ladiariamentesabendo que por maisque a amemosela se deitarácom uns e outrosindiferente.Affonso Romano de Sant'AnnaFoto:Christian Coigny
O malandro arrependido
Ela tinha uma cintura bem torneadacadeiras cheiase caçava os machos nos arredores da Madeleine.pelo seu jeito de me dizer: Meu anjote apeteço?eu vi logo que se tratava de uma debutante.Ela tinha talento, é verdade, eu o confesso.Ela tinha gênio,mas sem técnica um dom não é nada.Certamente não é tão fácil ser puta como ser freira,pelo menos é o que se reza em latim na Sorbonne.Sentindo-me cheio de piedade pela donzelaensinei-lhe os pequenos truques de sua profissãoe ensinei-lhe os meios para fazer logo fortunarebolando o lugar onde as costas se assemelham à lua,Porque na arte de fazer o trottoir, confesso,o difícil é saber mexer bem a bunda.Não se mexe a bunda da mesma maneirapara um farmacêutico, um sacristão, um funcionário.Rapidamente instruída por meus bons ofíciosela cedeu-me uma parte de seus benefícios.Ajudavamo-nos mutuamente, como diz o poeta:ela era o corpo, naturalmente, e eu a cabeça.Quando a coitada voltava para casa sem nadadava-lhe umas porradas mais do que com razão.Será que ela se lembra ainda do bidê comque lhe rachei o crânio?Uma noite, por causa de manobras duvidosasela caiu vítima de uma doença vergonhosa,então, amigavelmente, como uma moça honestapassou-me a metade de seus micróbios.Depois de dolorosas injeções de antibióticosdesisti da profissão de cornudo sistemático.Não adiantou que ela chorasse e gritasse feita loucae, como eu era apenas um canalha, fiz-me honesto.Privado logo de minha tutela, minha pobre amiga,correu a suportar as infâmias do bordel.Dizem que ela se vendeu até aos tiras!Que decadência!Já não existe mais moralidade públicana nossa França!Georges BrassensFoto:Rene Asmussen
AutobiografíaAmado Nervo¿Versos autobiográficos ? Ahí están mis canciones, allí están mis poemas: yo, como las naciones venturosas, y a ejemplo de la mujer honrada, no tengo historia: nunca me ha sucedido nada, ¡oh, noble amiga ignota!, que pudiera contarte. Allá en mis años mozos adiviné del Arte la armonía y el ritmo, caros al musageta, y, pudiendo ser rico, preferí ser poeta. -¿Y después? -He sufrido, como todos, y he amado. ¿Mucho? -Lo suficiente para ser perdonado...Autobiografia Versos autobiográficos? Aí estão as minhas canções, Ali estão meus poemas: eu, como as nações venturosas, e a exemplo da mulher honrada, não tenho história: nada me sucedeu nunca, Oh! Nobre amiga desconhecida!, que poderia te contar. Além de que na juventude adivinhei da arte a harmonia e o ritmo, queridos do maestro, e, podendo ser rico, preferi ser poeta. - E depois? - Como todos sofri e amei. Muito? - O suficiente para ser perdoado....