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domingo, 31 de maio de 2009

Amar a morte



Amar de peito aberto a morte.
Não de esguelha, de frente.

Amar a morte,
digamos,
despudoradamente.

Amá-la como se ama
uma bela mulher
e inteligente.Amá-la
diariamente
sabendo que por mais
que a amemos
ela se deitará
com uns e outros
indiferente.

Affonso Romano de Sant'Anna

Foto:Christian Coigny

domingo, 24 de maio de 2009

O malandro arrependido



Ela tinha uma cintura bem torneada
cadeiras cheias
e caçava os machos nos arredores da Madeleine.
pelo seu jeito de me dizer: Meu anjo
te apeteço?
eu vi logo que se tratava de uma debutante.

Ela tinha talento, é verdade, eu o confesso.
Ela tinha gênio,
mas sem técnica um dom não é nada.
Certamente não é tão fácil ser puta como ser freira,
pelo menos é o que se reza em latim na Sorbonne.

Sentindo-me cheio de piedade pela donzela
ensinei-lhe os pequenos truques de sua profissão
e ensinei-lhe os meios para fazer logo fortuna
rebolando o lugar onde as costas se assemelham à lua,

Porque na arte de fazer o trottoir, confesso,
o difícil é saber mexer bem a bunda.
Não se mexe a bunda da mesma maneira
para um farmacêutico, um sacristão, um funcionário.

Rapidamente instruída por meus bons ofícios
ela cedeu-me uma parte de seus benefícios.
Ajudavamo-nos mutuamente, como diz o poeta:
ela era o corpo, naturalmente, e eu a cabeça.

Quando a coitada voltava para casa sem nada
dava-lhe umas porradas mais do que com razão.
Será que ela se lembra ainda do bidê com
que lhe rachei o crânio?

Uma noite, por causa de manobras duvidosas
ela caiu vítima de uma doença vergonhosa,
então, amigavelmente, como uma moça honesta
passou-me a metade de seus micróbios.

Depois de dolorosas injeções de antibióticos
desisti da profissão de cornudo sistemático.
Não adiantou que ela chorasse e gritasse feita louca
e, como eu era apenas um canalha, fiz-me honesto.

Privado logo de minha tutela, minha pobre amiga,
correu a suportar as infâmias do bordel.
Dizem que ela se vendeu até aos tiras!
Que decadência!
Já não existe mais moralidade pública
na nossa França!

Georges Brassens

Foto:Rene Asmussen

sábado, 23 de maio de 2009

AMADO NERVO


Autobiografía

Amado Nervo


¿Versos autobiográficos ? Ahí están mis canciones,
allí están mis poemas: yo, como las naciones
venturosas, y a ejemplo de la mujer honrada,
no tengo historia: nunca me ha sucedido nada,
¡oh, noble amiga ignota!, que pudiera contarte.

Allá en mis años mozos adiviné del Arte
la armonía y el ritmo, caros al musageta,
y, pudiendo ser rico, preferí ser poeta.
-¿Y después?

-He sufrido, como todos, y he amado.

¿Mucho?

-Lo suficiente para ser perdonado...

Autobiografia


Versos autobiográficos? Aí estão as minhas canções,
Ali estão meus poemas: eu, como as nações
venturosas, e a exemplo da mulher honrada,
não tenho história: nada me sucedeu nunca,
Oh! Nobre amiga desconhecida!, que poderia te contar.

Além de que na juventude adivinhei da arte
a harmonia e o ritmo, queridos do maestro,
e, podendo ser rico, preferi ser poeta.

- E depois?

- Como todos sofri e amei.

Muito?

- O suficiente para ser perdoado....