MAY
Mas tu, a quem a noite cedeu as mais
puras das suas imagens, e estendeste a mão
no vazio para agarrar a que passasse mais perto
dos teus sonhos: abre os olhos, soergue
o teu corpo, procura no mais recôndito
de ti a palavra que ficou perdida, nalgum
canto da tua vida, antes que o musgo
do tempo a apague.
Talvez seja apenas um nome, talvez
seja o sinónimo do amor que não ousaste
confessar, ou a resposta à pergunta que
te fizeram e deixaste afundar-se no silêncio
para que nada mudasse na tua vida; e
só agora, quando a noite veio ao teu encontro,
te lembras de que podia ter sido outra coisa, se
tivesse sido outro o caminho.
Podia ter sido um acaso, uma distracção,
um olhar para longe, e de súbito não tinhas ninguém
à tua frente. Agora, porém, volta a estender
a mão, e agarra o que a noite traz no seu vazio,
apenas para saberes, de novo, qual a palavra que
não disseste, o gesto que não tiveste, o olhar
distraído do que havia à tua volta, como se
alguma dessas coisas pudesse mudar a tua vida.
Nuno Júdice
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