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segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

 

UM INSTANTE, APENAS UM INSTANTE

 


Sim. Eu negarei tudo, se me perguntarem,

de vez que te interessa negar o que aconteceu,

menos o afeto que trago como um troféu

de ter sido o teu mais efêmero amor,

erro de uma única e breve vez.

Sei bem que dirás que minto

(e pode ser verdade),

por minha memória ser fragmentada,

estilhaçada, destruída

por tanto amor que dei.

Reinaste em mim,

como uma rainha absoluta,

guia da criança perdida

numa misteriosa gruta

que me atordoava

e me convertia num amante sacerdote,

que venerava sua deusa

com beijos sobre o ventre,

com carícias brutas e delicadas,

com uma paixão desenfreada,

com os dedos em delírio

e uma sofreguidão incessante, 

tocando músicas inexistentes no teu corpo

que tremia como se estivesse em agonia.

Em agonia, nem sabia,

era eu que estava.

Antes de ti,

com certeza, estava morto.

Pena que, depois de ti, também.

Pode dizer o que quiseres.

Eu negarei, é claro,

porque tu queres,

porém, hás te lembrar

mesmo tudo tendo sido

muito rápido, célere, veloz,

da saciedade e da plenitude,

que permaneceu em nós,

como me disse um dia,

apesar de tanto tempo.

E se a boca mente,

a mente sempre sabe

distinguir entre a mentira e a verdade.

Podes negar tudo:

menos aquele momento de felicidade!

 

Ilustração: Wedfoto.net.

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