Não, não me deixes apagar o destino
que ajudaste a acender
nos nossos corações
atravessados pelo mesmo rio.
Dá-lhe o sopro do sonho,
a lenha dos dedos,
o pólen dos lábios,
as abelhas devoradas pelo mel.
Dá-lhe as chamas que fazem ninho por dentro dos frutos,
a cal das unhas cândidas que despem os mortos,
os seios suados de treva,
os dentes de rasgar árvores.
Dá-lhe o mundo louco de caveira,
os tambores da fome,
as carícias de seda inquieta,
o frio arrancado dos punhais,
a morte - jeito de mais luz.
Dá-lhe o terror. o com o copo de veneno à cabeceira,
o hálito dos abismados,
os túmulos arranhados, as mãos de vidro na testa,
os lábios que sabem ao suicídio dos anjos.
Dá-lhe tudo, tudo, tudo, tudo...
... a bela fogueira do destino
onde te lançaste viva
e eu continuo a arder em labaredas de cinzas.
José Gomes Ferreira
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