e sinto muito o que falo
- pois morro sempre que calo.
Minha geração se fez de lições mal-aprendidas.
- e classes despreparadas.
Olhávamos ávidos o calendário. Éramos jovens.
Tínhamos a “história” ao nosso lado. Muitos
maduravam um rubro outubro
outros iam ardendo um torpe agosto.
Mas nem sempre ao verde abril
se segue a flor de maio.
Às vezes se segue o fosso
- e o roer do magro osso.
E o que era revolução outrora
agora passa à convulsão inglória.
E enquanto ardíamos a derrota como escória
e os vendedores nos palácios espocavam seus champanhas
sobre a aurora
o reprovado aluno aprendia
com quantos paus se faz a derrisória estória.
Convertidos em alvo e presa da real caçada
abriu-se embandeirado
um festival de caça aos pombos
- enquanto raiava sanguínea e fresca a madrugada.
Os mais afoitos e desesperados
em vez de regressarem como eu
sobre os covardes passos,
em vez de abrirem suas tendas para a fome dos desertos,
seguiram no horizonte uma miragem
e logo da luta
passaram
ao luto.
Vi-os lubrificando suas armas
e os vi tombados pelas ruas e grutas.
Vi-os arrebatando louros e mulheres
e serem sepultados às ocultas.
Vi-os pisando o palco da tropical tragédia
e por mais que os advertisse do inevitável final
não pude lhes poupar o sangue e o ritual.
Hoje
os que sobraram vivem em escuras
e europeias alamedas, em subterrâneos
de saudade, aspirando um chão-de-estrelas,
plangendo um violão com seu violado desejo
a colher flores em suecos cemitérios.
Talvez
todo o país seja apenas um ajuntamento
e o consequente aviltamento
- e uma insolvente cicatriz.
Mas este é o que me deram,
e este é o que eu lamento,
e é neste que espero
- livrar-me do meu tormento.
Meu problema, parece, é mesmo de princípio:
- do prazer e da realidade
- que eu pensava
com o tempo resolver
- mas só agrava com a idade.
Há quem se ajuste
engolindo seu fel com mel.
Eu escrevo o desajuste
vomitando no papel.
Affonso Romano de Sant'Anna
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