lembro aquela primeira em vez
em que me persuadiste a fechar os dedos
por onde passava a areia que contava
o correr louco dos dias
falaste de uma brisa matinal
de palavras feitas
com que despertavas diariamente
da matéria do tempo
pensei na Elsinore de Cesariny
e na floração da magnólia de Luiza
exigiste
lume
para te dar chão
vento
para navegar as águas
exigiste
presente
para exorcizar
os espectros que teimosamente
habitavam os pretéritos
telúrico
senti a noite
penetrar a pele
um ar quente silente
embrenhando-se na carne
e uma humidade
entranhando-se nos ossos
despindo o céu de luz
num início de verão
questionei o significado da
aparentemente estranha
metáfora dos elementos
e demandamos juntos
o sentido das circunstâncias
fomos conduzidos pelo
indelével toque das mãos
e pelas emanações da pele
autenticada pelo amor
através da madrugada
até um tempo novo
em que dos olhos fizemos
pontos de luz
e intimamente próximos
dissipamos o nevoeiro
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