Seguidores

sábado, 20 de abril de 2024

Ana Luísa Amaral

 

APR




Em que meditas tu 
quando olhas para mim dessa maneira, 
deitada no sofá 
diagonal ao espaço onde me sento, 
fingindo eu não te olhar? 

Em que pensa o teu corpo 
elástico, alongado, 
pronto a vir ter comigo 
se eu pedir? 

As orelhas contidas em recanto, 
as patas recuadas, 
o que atravessa agora o branco dos teus olhos: 
lua em quarto-crescente, 
um prado claro? 

E quando dormes, como noutras horas, 
que sonhos te viajam: 
a mãe, a caça, a mão macia, o salto 
muito perfeito 
e alto, muito esguio? 

Onde: a noite sem frio 
que nos abrigará 
um dia 

e que há-de ser 
(só pode ser) 

igual?


Ana Luísa Amaral










Sem comentários: