Fiz Filosofia Medieval há 40 anos, daí já não ter a certeza se é no De Trinitate, livro que não tenho para o confirmar, que Santo Agostinho diz que quanto mais ama Deus, mais o conhece e que quanto mais o conhece, mais o ama. Na altura isso pareceu-me normal, e, tratando-se de Deus, ainda hoje me parece. Porque, ou Deus não existe, ou, se existe, nunca se viu, sendo muito fácil amar e conhecer o que não existe ou nunca se viu, fluindo livremente o amor e o conhecimento como um rio sem margens para o comprimir. Bem diferente do que está diante dos nossos olhos, em que amor e conhecimento lutam entre si, e em que quanto mais se ama, menos se conhece, e quanto mais se conhece, menos se ama. Não se trata de um imperativo ou de um conselho, não estou a dizer que amor e conhecimento devem lutar entre si, apenas que lutam entre si. Trata-se do domínio do ser e não do dever ser. O que diz aqui a personagem feminina soa a paradoxo, mas não é. Porque o amor tem a sua própria sabedoria, que não é a do conhecimento, como a do conhecimento não é a do amor. Duas linhas paralelas que seguem lado a lado sem se tocar, mas que, tocando-se, pode gerar um curto-circuito do qual ambas saem queimadas.
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