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domingo, 29 de outubro de 2023

A OUTRA VISÃO

 


A OUTRA  VISÃO








A obra-prima da criação divina


A história da criação do mundo está mal contada. Quando Deus, depois de ter feito o céu e a terra, as árvores e as nuvens, o mar e os peixes e se preparava para descansar, olhou à sua volta e tudo lhe pareceu muito vazio.


Faltavam animais que preenchessem todo aquele espaço, que dessem animação ao cenário criado, e Deus, num supremo esforço, embora já muito cansado, lá foi criando a bicharada.

No fim, olhou para toda aquela variedade de seres, e percebeu que não havia um único que fosse suficientemente belo, à altura da grandiosidade de toda a sua obra, que verdadeiramente o arrebatasse mas, cansado como estava, adormeceu encostado ao tronco de uma árvore.

Manhã cedo, despertado pelos primeiros raios de sol desse primeiro dia de todos quantos haviam de se seguir, levantou-se e dirigiu-se a um lago de águas límpidas e transparentes, como só então podiam ser, e sobre as quais se debruçou olhando a sua imagem reflectida.

- E por que não, alguém à sua semelhança?

- E num momento de inspiração, que só poderia ser divina, lançou a sua mão, dedo indicador ligeiramente espetado na direção de umas bananeiras que para ali estavam, proferiu as palavras mágicas utilizadas para a criação de toda a sua obra no dia anterior, o primeiro, e... ali estava um novo ser, esbelta, elegante, roliça, morena, cabelos escuros escorridos pelos ombros, e Deus, conquistado por tanta beleza, reconheceu que a sua obra estava agora concluída.

As suas formas arredondadas e harmoniosas, aqueles olhos que enviavam mensagens e convites... novos e estranhos, encantaram o próprio Deus que seduzido por aquela visão a olhou perplexo, pensativo e, simultaneamente, embevecido.

Agora, sim, poderia dar a sua obra como concluída com total sucesso, demasiado sucesso, talvez... pois não sentia nenhuma vontade de partilhar com mais ninguém aquele ser encantador a que ele chamou “mulher” e que decidiu guardar só para Ele, prerrogativa de Criador para com a obra Criada.

Na imensa escala do tempo estariam destinados a serem felizes para sempre: Deus e a sua criação por Ele imortalizada mas..., sem que se soubesse por quê, um dia aconteceu a ruptura.

O que terá sucedido, então, é dos segredos mais guardados pela natureza divina. Não havia então cronistas sociais e todos os restantes bichos, embora estranhassem aquela ligação entre o Criador e aquele animal, nada poderiam contar. 

Eram mudos, comunicavam apenas por sinais entre eles, os indispensáveis para o acasalamento, ataque e defesa que a mais, Deus, não os tinha dotado.

Teria havido, com certeza, razões de queixa dadas por ela e estando por provar que Deus seja infinitamente bom e misericordioso, como se pode aferir no dia-a-dia da humanidade, o inevitável aconteceu:

 - Foi-se a ela, arrancou-lhe uma costela, e a contra-gosto e por castigo, fez o Adão.

E foi assim, nesse dia, por razões que nunca se saberão, que terminou o paraíso, e ela, mulher, como todas as outras fêmeas, para além de ter que lhe dar herdeiros, ainda passou a ser obrigada a limpar-lhe a casa, fazer-lhe a comida, engomar-lhe as camisas e aturar-lhe as bebedeiras... isto, até há uns tempos atrás.


Que pensará Deus disto tudo?

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