Procuro a terra branca de um outro
continente, os montes áridos de um litoral
tempestuoso, o fundo secreto de uns olhos
abertos para o coral da eternidade. Perdi-me
nessa procura; destruí os cadernos onde
apontara o caminho. Como um cego,
estendi os braços para o ocaso de um infinito
que os loucos desenharam. Bati contra
os seus limites, e andei às voltas sem encontrar
uma fuga.
Mas vi saírem todos os barcos do porto
que imaginei. Tinha-o pensado com longos
cais vazios, e percorrera-o devagar, tropeçando
nas madeiras podres e nas cordas inúteis
de um velame corrupto. Por vezes, sentei-me
nos caixotes desfeitos pelos vagabundos
em busca de um resto de comida. Os cães
vinham ter comigo e lambiam-me as mãos
como se eu fosse o seu dono.
Não sei o que levaram esses barcos; nem
que sonho de felicidade se desfez nos olhos
vazios dos afogados.
Nuno Júdice
1 comentário:
E aqui um poema de Nuno Júdice a dar a volta a existência e de tirar o fôlego...
Excelente!
Parabéns pela escolha e obrigada pela partilha.Bji
Enviar um comentário