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segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

Fernando Pessoa

 


Fernando Pessoa

AUTOPSICOGRAFIA




AUTOPSICOGRAFIA
O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
s. d.
- 235.Poesias. Fernando Pessoa. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995).
1ª publ. in Presença , nº 36. Coimbra: Nov. 1932.




1 comentário:

adry disse...

De grande profundidade e de grande verdade.
Assim é de facto ....