Vem aos meus sonhos,
faz em mim a tua casa.
Planta, em frente, a cerejeira dos
pássaros brancos,
deixa que eles pousem nos ramos e cantem
eternamente,
deixa que nas suas asas de luz eu leia o meu
nome,
antes de os relâmpagos acenderem os prados.
Vem aos meus sonhos,
vê os labirintos por onde me perco,
vê os meus países do mar,
vê, em cada barco que parte do meu coração,
as viagens que não fiz,
os amores que não tive,
a lua cruel da minha solidão.
Vem aos meus sonhos,
traz um fio de água para as dálias do meu
quarto vazio,
não queiras que as suas pétalas sequem muito
depressa,
caindo pelos delicados muros de cristal,
apagando a cor que dava vida aos aposentos do
solitário.
Deixa que ele evoque a secreta doçura das
colmeias,
e vem,
vem aos meus sonhos,
ilumina o meu domingo de cinzas, o meu
domingo de ramos, o meu calvário,
diz que estás aqui,
nesta página que escrevo para nunca te esquecer.
José Agostinho Baptista
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