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quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

António Ramos Rosa

 

Photo: Noell Oszvald



Desocupado, livre, 
sem vestígios, ao sol, 
tronco devorado pela luz, 
ondulada frescura no dorso, 
sem laços, sem raízes, desabitado. 

Conheço o tempo 
e a demora 
lenta, 
o vazio da casa na manhã, 
a manhã deserta ao sol, 
a cegueira da luz tão leve, 
o deserto simples, 
o nome prolongado e nulo. 

Estou 
no silêncio, 
na habitação do silêncio, 
no mar imaginado, 
na planura verde sussurrante, 
na seara das brisas, 
nos adeuses prolongados em ondas desfeitas, 
no vazio da terra fresca, 
no silêncio sempre novo, 
nas vozes sobre o mar, 
no sono sobre o mar. 

Estou deitado 
e alto. 
Sou a tranquilidade dos montes, 
a lenta curva das baías, 
os olhos subterrâneos da água, 
a liberdade dispersa do vento, 
a claridade de tudo. 

Escrevo sobre dunas 
silenciosamente. 
Oiço o tempo que não passa. 
Um século de frescura 
inunda-me. 
Não esperava habitar esta vasta clareira 
límpida. 
Não esperava respirar esta brisa de paz, 
de liberdade isenta, 
de morte desvelada, 
de vida renovada. 

Abraço todo o espaço na liberdade viva.


António Ramos Ros

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