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sábado, 30 de setembro de 2023

Nuno Júdice

 

SEP



Era em setembro, nos anfiteatros vazios, 
na alameda que subia para onde nos 
devìamos encontrar, 
e não estavas; era um outono que caía sobre 
as árvores do estádio, empurrando-lhes 
as folhas para cima da mesa da esplanada, onde está vazia a mesa em 
que as minhas mãos deviam procurar as tuas; era 
a tua ausência em todos os lugares em que eu sabia 
que poderias estar à minha espera, e só a sombra 
das nuvens me trazia a memória da tua passagem, como 
se fosses a ave que parte quando o primeiro sopro 
do inverno se anuncia. 

Que fazer sem ti, nestes anfiteatros de bancos 
vazios, nos corredores melancólicos que levam 
para átrios e pátios, nesses relvados onde não vale a pena 
sentar-me, perguntar-te se gostas do outono, ou dizer que 
os teus olhos é que valem a pena, agora que vejo, neles, 
as nuvens que correm para o sul? E tu, sem estares aqui, 
dizes-me que não é preciso que eu me lembre de ti; que 
é o tempo que decide com quem temos de estar; que
estás para chegar, de trás das árvores do estádio, para 
limpares de folhas a mesa da esplanada, e pedires-me que 
pegue nas tuas mãos, como se o inverno 
não estivesse para chegar. 

Mas um cansaço antigo prende-me a estes bancos 
de anfiteatro; uma indecisão de passos empurra-me por 
corredores e salas, em busca de um bar que fechou 
há muito; o vento varreu as folhas da mesa da 
esplanada, tirando a única justificação para que venhas. Abro, 
então, as gavetas do passado. Tiro cartas, fotografias, 
poemas, o livro em que me escreveste a frase interrompida 
do amor. Como se eu não soubesse que as nuvens encheram 
de sombra todas as imagens; que os pássaros levaram 
para o sul tudo o que tinhas para me dizer; que 
as folhas no chão cobriram o teu corpo, antes que 
o inverno tivesse de o fazer.


Nuno Júdice




1 comentário:

mariferrot disse...

Ausência, o não de uma presença, o toque que apenas se sente, o traço que foi esquecido e facilmente mudado, o fumo que vem do soprado é branco com sombreado e é rosto desfigurado !!!...


Beijo Conde