O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda
[...]
Alberto Caeiro
Vi-a chegar. Parou bem ao centro da praceta, pousou a mochila no chão e tirou dela um microfone e outro dispositivo que julgo ser um amplificador de som. Ligou-o e a música fez-se ouvir. Não eram muitos os transeuntes àquela hora e não sei se algum reparava, como eu, na presença da jovem, contudo quando a sua voz soou, cristalina e serena, impossível se tornou o alheamento e algumas pessoas depositavam sobre a mochila, no chão, a moedinha “da praxe” e seguiam. A uma certa distância, preparava-me eu para fazer o mesmo, quando, vejo abeirar-se da cantora um maltrapilho, com aparente deficiência mental, de mão estendida. Não sei o que lhe disse, mas sei o que vi. A miúda, (miúda sim, teria uns 15, 16 anos) aproveitando o momentâneo vazio em volta e não percebendo que estava a ser observada, interrompeu a canção, deixando a música solta no ar, baixou-se e escolheu, de entre as parcas moedas, a maior e, com um sorriso, deu-a ao pedinte. Este, virou-lhe as costas com um "adeus" apressado. Ela voltou à canção. Foi a minha vez de lhe sorrir, de aceitar o seu "obrigada", quando, quem tinha o dever de agradecer pelo que me fora dado observar, era obviamente eu.
Há dias assim: bonitos!
Lídia Borges
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