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quinta-feira, 2 de novembro de 2023

Nuno Júdice

 

NOV

Há noites frias em que o barulho 
da chuva nos vidros e um vago tinir 
de sinos, ao longe, me trazem o desejo 
das tuas mãos quentes a passarem
no meu pensamento, como se pudessem
apanhar as negras imagens e, num estalar
de dedos, as tirassem da minha cabeça.

Podias ser tu, a jovem silenciosa
que atravessava a casa, como um fantasma,
levando atrás de ti olhares invisíveis,
numa súplica de que parasses e, num súbito
movimento, virasses o teu rosto para 
quem o sonhou, próximo do seu, numa
partilha de impossíveis respirações.

E não te vás embora, ainda, agora que
o inverno te trouxe para o pé de mim, e 
me faz perguntar em que túmulo repousas,
sentindo a humidade da noite impregnar-se
do esquecimento triste que aflige os mortos,
e diz-me, apenas, porque te foste embora,
nessa noite, arrastando os passos no frio 
lajedo, empurrada pelo som da chuva, nos vidros,
e pelo toque dos sinos, ao longe, já tão longe.


Nuno Júdice




1 comentário:

mariferrot disse...

Chuva fria, agua pura que molha as vidraças e rega o jardim, afasto as cortinas e vejo a terra chorando e em mim tropeçando mas a minha recompensa está na fonte das águas vivas !!!...


Beijo Conde