NOV
o que é isso
um poema limpo
eu nunca consegui escrever
nada que fosse limpo:
havia sempre algum sangue algum
sémen alguma
nódoa que gostaria
que se tivesse desvanecido
com o tempo mas
os poemas congelam
na hora tudo aquilo
em que eu acreditava
naquele momento e por norma
não acredito em nada já
abandonei todas as bandeiras:
queriam que fosse limpa eu
fui porca queriam que
fosse linha recta eu fui prato
queriam que fosse mãe eu fui puta
queriam que fosse sóbria fui ébria
/ tantas noites me afagava a solidão /
e por isso quando
me dizem que um verso
deve ser limpo, deixa que seja eu
agora a perguntar:
quanto de uma linha recta
é possível seguir
sem dar com os dentes
na parede mais
próxima?
Francisca Camelo
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