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sábado, 18 de novembro de 2023

Manuel de Freitas

 umstance, I have not winced nor cried aloud. Under the bludgeonings of chance, my head is bloody, but unbowed.


  1. - podia começar assim, 
    com uma dessas canções 
    profanas e furibundas 
    a que se regressa sempre 
    nos partidos tempos da vida. 

    Mas não creio que o alento possa voltar 
    a ser o daquelas manhãs de Junho 
    em que uma despedida precoce ditou leis 
    que eu cumpri demasiado bem. 
    Que tem isto a ver contigo, dirás, 
    e a resposta cala-se no meu peito, 

    asfixia lentamente nas sílabas 
    do teu nome em forma de punhal, 
    enquanto eu, o próprio, ando por aí 
    a ver passar os navios que já não passam 
    e a preparar as tabernas disponíveis 
    para a velhice que afinal virá. 
    Já não sou, acredita, esse príncipe 

    de um reino que quis imundo e breve. 
    E sei agora que as algemas do amor 
    doem mais quando os pulsos mal abertos 
    calafetaram a memória numa travessa 
    sem espera. De pouco serve importunar-te: 
    és apenas o álibi dilacerante 
    de um poema que eventualmente terá 
    alguma coisa a ver comigo, nada 
    que mereça a pena que aliás nada merece. 

    E hás-de ter uma vida, uma família, um cão 
    como toda a gente tem mesmo que não tenha, 
    inventando paliativos cheios do calor, 
    do sossego, que nunca curaram ninguém 
    da peste real do amor: esta vontade 
    de beber por mãos alheias o sangue derramado, 
    suspenso num sorriso em chamas 
    sobre o qual já tudo foi dito e ainda nada. 

    Que te protejam, na noite separada, 
    as mais frias certezas e a boca da catástrofe 
    que não beijou nem quis o poema inacabável.


    Manuel de Freitas

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