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segunda-feira, 14 de agosto de 2023

Manuel Bandeira: Vou-me embora pra Pasárgada





O poeta Manuel Bandeira recita seu Vou-me Embora para Pasárgada. Trecho do filme "O poeta do castelo", de Joaquim Pedro de Andrade - 1959.



VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA
Manuel Bandeira

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada Aqui eu não sou feliz Lá a existência é uma aventura De tal modo inconsequente Que Joana a Louca de Espanha Rainha e falsa demente Vem a ser contraparente Da nora que nunca tive E como farei ginástica Andarei de bicicleta Montarei em burro brabo Subirei no pau-de-sebo Tomarei banhos de mar! E quando estiver cansado Deito na beira do rio Mando chamar a mãe-d’água Pra me contar as histórias Que no tempo de eu menino Rosa vinha me contar Vou-me embora pra Pasárgada Em Pasárgada tem tudo É outra civilização Tem um processo seguro De impedir a concepção Tem telefone automático Tem alcalóide à vontade Tem prostitutas bonitas Para a gente namorar E quando eu estiver mais triste Mas triste de não ter jeito Quando de noite me der Vontade de me matar — Lá sou amigo do rei — Terei a mulher que eu quero Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.



1 comentário:

mariferrot disse...

Acho este poema muito interessante, de toque modernista, alimenta o homem para realidades diferentes, promete-lhe uma vida em liberdade, na busca do paraíso onde tudo é permitido. O homem sedento de fuga procura refúgio em Pasárgada, que existiu no tempo do império persa !!!...

Beijo Conde