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terça-feira, 6 de dezembro de 2022

rui amaral mendes in a noite o sangue [2016]

 


Respirei no copo
Das minhas outras vidas
Para que eu pudesse escrever no nevoeiro...

Dana Goodyear 


lembro aquela primeira em vez
em que me persuadiste a fechar os dedos
por onde passava a areia que contava
o correr louco dos dias

falaste de uma brisa matinal
de palavras feitas
com que despertavas diariamente
da matéria do tempo

pensei na Elsinore de Cesariny
e na floração da magnólia de Luiza

exigistelume
para te dar chão
vento
para navegar as águas

exigiste

presente
para exorcizar
os espectros que teimosamente
habitavam os pretéritos

telúrico
senti a noite
penetrar a pele

um ar quente silente
embrenhando-se na carne
e uma humidade
entranhando-se nos ossos
despindo o céu de luz
num início de verão

questionei o significado da
aparentemente estranha
metáfora dos elementos
demandamos juntos
o sentido das circunstâncias

fomos conduzidos pelo indelével toque das mãos
epelas emanações da pele
autenticada pelo
amor
através da madrugada
até um tempo novo
em que dos olhos fizemos
pontos de luz
e intimamente próximos
dissipamos o nevoeiro


rui amaral mendes in a noite o sangue [2016]© 












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