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sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

( José Tolentino Mendonça

 

Para haver Natal este natal 
talvez seja preciso reaprendermos 
coisas tão simples! 
Que as mãos preocupadas 
com embrulhos 
esquecem outros gestos de amor. 
Que os votos rotineiros que trocamos 
calam conversas que nos fariam melhor. 
Que os símbolos apenas se amontoam 
e soltam uma música triste 
quando já não dizem 
aquela verdade profunda. 

Para haver Natal este natal 
talvez seja preciso recordar 
que as vidas começam e recomeçam 
e tudo isso é nascimento (logo, Natal!). 
Que as esperanças ganham sentido 
quando se tornam caminhos e passos. 
Que para lá das janelas cerradas 
há estrelas que luzem 
e há a imensidão do céu. 

Talvez nos bastem coisas afinal 
tão simples: 
o alento dos reencontros autênticos, 
a oração como confiança soletrada, 
a certeza de que Jesus nasce em cada ano, 
para que o nosso natal alguma vez, esta vez, 
seja Natal.


José Tolentino Mendonça




2 comentários:

adry disse...

Um Homem de vulto intelectual notável.
Um dos maiores poetas contemporâneos.
Muito bem lembrado,nesta quadra.Excelente texto!

mariferrot disse...

Poeta, Sacerdote e Professor, a viver no Vaticano, defende que a poesia é a arte de resistir ao seu tempo !!!...

BOAS FESTAS AMIGO !!!...

BEIJO CONDE