Que música escutas tão atentamente
que não dás por mim?
Que bosque, ou rio, ou mar?
Ou é dentro de ti
que tudo canta ainda?
Queria falar contigo,
dizer-te apenas que estou aqui,
mas tenho medo,
medo que toda a música cesse
e tu não possas mais olhar as rosas.
Medo de quebrar o fio
com que teces os dias sem memória.
Com que palavras
ou beijos ou lágrimas
se acordam os mortos sem os ferir,
sem os trazer a esta espuma negra
onde corpos e corpos se repetem,
parcimoniosamente, no meio de sombras?
Deixa-te estar assim,
ó cheia de doçura,
sentada, olhando as rosas,
e tão alheia
que nem dás por mim.
Eugénio de Andrade
Imagem retirada do Google
2 comentários:
"... imagem retirada do google..."
é linda!
mas..., donde tiras [ou o que escondes por detrás d]esse jeito tão especial de encontrar "a poesia"?!
é liiindo, esse poema de Eugénio!
beijo :))
Chama por mim, quero saber que estas perto
Beijinhos doce, ótimo domingo
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