JAN
revelaste-me um dia
o quanto aprecias as nuvens
tivesse eu o engenho de Joyce
e talvez encontrasse palavras
para nelas projectar
o sentido de um qualquer paraíso perdido
ou simplesmente a dimensão inefável de
um mistério que se estende para lá
de uma condensação de água
sem fim à vista
a verdade é que por estes dias
a memória que trago comigo
da geografia de um encontro
e das nuvens que então nos abraçaram
me fazem indagar sobre
uma inesperada combinação de densidade e leveza
ou a simples condensação dos mistérios
que vão conferindo beleza e significado à vida
acredito que não me cumpre
esclarecer o sentido da natureza física
da água e dos seus estados
mas somente reconhecer a beleza
daquilo que nos toca para lá da epiderme
e nos passa por entre os dedos
sem que o consigamos capturar
aqui
perdido por
entre nuvens
e raios de sol
a condensação que
sinto habitar-me e envolver-me
é feita de ternura e desejo
enquanto por dentro
algo líquido me aquece
veias e artérias sob
o signo verde da esperança.
rui amaral mendes in de profundis
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