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quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

rui amaral mendes in de profundis

 

JAN

revelaste-me um dia 
o quanto aprecias as nuvens 

tivesse eu o engenho de Joyce 
e talvez encontrasse palavras 
para nelas projectar 
o sentido de um qualquer paraíso perdido 
ou simplesmente a dimensão inefável de 
um mistério que se estende para lá 
de uma condensação de água 
sem fim à vista 

a verdade é que por estes dias 
a memória que trago comigo 
da geografia de um encontro 
e das nuvens que então nos abraçaram 
me fazem indagar sobre 
        uma inesperada combinação de densidade e leveza 
ou a simples condensação dos mistérios 
que vão conferindo beleza e significado à vida 

acredito que não me cumpre 
esclarecer o sentido da natureza física 
da água e dos seus estados 
mas somente reconhecer a beleza 
daquilo que nos toca para lá da epiderme 
e nos passa por entre os dedos 
sem que o consigamos capturar 

aqui 
        perdido por 
        entre nuvens 
        e raios de sol 
a condensação que 
sinto habitar-me e envolver-me 
é feita de ternura e desejo 

enquanto por dentro 
algo líquido me aquece 
veias e artérias sob 
o signo verde da esperança.


rui amaral mendes in de profundis





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