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terça-feira, 23 de janeiro de 2024

António Franco Alexandre

 

JAN

Deixo na mesa baixa o livro, o bolo, 
o sumo de laranjas do oriente, 
e essa secreta, doce especiaria 
que te torna visível por momentos. 
Poderás acordar-me, se quiseres 
testemunha de tal metamorfose, 
ou passar só as garras caprichosas 
pelo sonho vulgar que me acontece. 
Verei, pela manhã, traços de passos 
humanamente nus pelo soalho, 
e na borda dos pratos a saliva 
de raros, venenosos cogumelos. 
Terás levado o livro; o bolo a meio 
tem a marca felina dos teus dentes.


António Franco Alexandre





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