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segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

Maria Tereza Horta

 

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  2. Confesso o vício de ler 
    afago 
    cada palavra 

    bebo o feitiço das histórias 
    cada sonho     cada  asa 
    por onde a busca se enlaça 

    revolvo-me na ruptura 
    ou na ternura descalça 
    onde a caneta sutura 

    Tomo o corpo da leitura 
    enredo-me no seu abraço 
    ora vestida     ora nua 

    ao longo deste prazer
    não há nada que eu não faça 
    em entrega e em devassa 

    indo mais longe no ler 
    encontro o cisne e a rola 
    na tocaia do prazer 

    Tenho a paixão da aventura
    teimo na escrita do perigo 
    e estremeço de prazer ao entreabrir um livro 

    corro as mãos nas suas espadas 
    frases desnudas de feltro 
    afloro as suas reservas 

    entrelaço as consoantes 
    com as vogais e o enredo 
    diante das fantasias no sobressalto do medo 

    Descobrir escusas passagens 
    pelas cisternas dos livros 
    ao folhear suas páginas 

    na entrega e sem suporte 
    nas lágrimas e no sorriso 
    entre o ardil e o tigre

    agora cumprindo 
    uma harmonia 
    ora querendo uma transgressão 

    Sou uma leitora voraz 
    tenho um trato com a audácia 
    e outro com o perdimento 

    entre o sonho e a escrita
    existe um espaço sedentário 
    rebeldia e firmamento 

    digo tempo e confissão 
    das cartas     das bibliotecas 
    das escrituras secretas 

    Corro nas linhas dos textos
    tropeçando 
    de avidez 

    na cama quero as palavras
    enoveladas     errantes 
    com elas sou viajante 

    não há rumores da minha 
    vida 
    os livros e as estantes estão 

    Gosto de beber o cheiro 
    do interior da leitura 
    temperado com canela e as coisas obscuras 

    deleito-me com a poesia 
    endoideço com o romance 
    esquivamento das mulheres 

    com a sua escrita de leite 
    de linho e alquimia 
    de aço rumorejante 

    Encontro a rima cismada 
    dobo a palavra a vapor 
    na teima de quem porfia 

    vou em busca do fulgor 
    corro atrás da literatura 
    dos textos e da leitura 

    Sou dependente dos livros 
    sem eles posso morrer 
    perco-me de tão perdida se proibido de ler


    Maria Tereza Horta






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