- Não desesperarei da Humanidade.Por mais que o mundo, o acaso, a Providência, tudo,à minha volta afogue em lágrimas e bombasos sonhos de liberdade e de justiça;por mais que tudo o que a maldade busquepara encobrir-se traia o que ainda esperamos;por mais que a estupidez rica de bens e audáciaestrangule a lucidez dos que vêem claro;por mais que tudo caia, acabe, se suspenda;por mais que a Humanidade volte ao bando apavoradoque os cães servis acossam aos redis avaros;por mais que a noite desça, o frio geleas últimas esperanças, em luar cendradocujo silêncio nem gritos de criançapossam trespassar -não desesperarei da Humanidade. Em vãome aturdem, me intimidam, me destroem;em vão se juntam todos imprecando ignaros. Não!Podem fazer o que quiserem. Podemtornar-me anónimo, traidor ou prostituta,que não desesperarei. Com os olhos postosna terra devastada em nome da justiça,vendo os mortos e os assassinos mortosque a liberdade em fúria assassinou,ouvindo o lume negro, o odor sombrioda paz sangrando apodrecida em escárnio,esperarei ainda e sempre. Para alémde mim, de tudo. Esperarei tranquilo.Jorge de Sena
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quarta-feira, 13 de dezembro de 2023
Jorge de Sena
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