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Sobre a minha boca está a tua mão: a tua mão tépida, dura...
Infinitamente doce. (Através dos teus dedos escorre a canção
rompida como água entre as fissuras de uma pedra.)
Sobre o meu coração está a tua mão: pequena lousa macia.
(Em baixo, o coração aquieta-se pouco a pouco.)
Na minha cabeça, a tua mão: o pensamento - chumbo fundido
que no seu molde adquire a forma afilada e recta, recta dos
teus dedos.
Nos meus pés, também as tuas mãos: anéis de ouro fino...
As tuas mãos delicadas e fortes, delicadas e firmes como as mãos
de um rei-menino.
(Os caminhos apagam-se na erva alta...)
Nos meus pés, as tuas mãos. Nas minhas mãos, as tuas mãos.
Na minha vida e na minha morte, as tuas mãos.
As tuas mãos, que não apertam nem imploram, que não
sujeitam, nem golpeiam, nem tremem.
As tuas mãos, que não se crispam, que não se esticam, que
não são mais do que isso, as tuas mãos, e porém toda a minha
paisagem e todo o meu horizonte...
Horizonte de quarenta centímetros, onde entornei o meu
mar de tempestades!
Dulce María Loynaz
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