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terça-feira, 22 de março de 2016

António Ramos Rosa

Tudo o que sei, já lá está, mas não estão os meus
passos nem os meus braços. Por isso caminho,
caminho, porque há um intervalo entre tudo e ...

eu, e nesse intervalo caminho e descubro o meu caminho.
Mas entre mim e os meus passos há um intervalo
também: então invento os meus passos e o meu próprio
caminho. E com as palavras de vento e de pedras,
invento o vento e as pedras, caminho um caminho de palavras.
Caminho um caminho de palavras
(porque me deram o sol)
e por esse caminho me ligo ao sol
e pelo sol me ligo a mim
E porque a noite não tem limites
alargo o dia e faço-me dia
e faço-me sol porque o sol existe
Mas a noite existe
e a palavra sabe-o.
 
 
António Ramos Rosa,
in "Sobre o Rosto da Terra"  
 
 
 

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