Nas ervas
Escalar-te lábio a lábio,
percorrer-te: eis a cintura
o lume breve entre as nádegas
e o ventre, o peito, o dorso
descer aos flancos, enterrar
os olhos na pedra fresca
dos teus olhos,
entregar-me poro a poro
ao furor da tua boca,
esquecer a mão errante
na festa ou na fresta
aberta à doce penetração
das águas duras,
respirar como quem tropeça
no escuro, gritar
às portas da alegria,
da solidão.
porque é terrivel
subir assim às hastes da loucura,
do fogo descer à neve.
abandonar-me agora
nas ervas ao orvalho -
a glande leve.
Eugénio de Andrade
Foto:Sergey Ryzhkov
2 comentários:
Hum!Hum!Hum!
Sem palavras
Apenas, mais e mais e mais
Beijinhos
Da cor do feno, as tuas mãos completas
erguem-se abertas e pedindo
a não sei que deus o seu destino
de cavalo indomável como um rio;
suspensas, as aves bebem o teu grito
e ficam cegas a tremer de frio.
Eugénio de Andrade é o génio... ;)
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