Jul
Em mim,
não saudeis o poeta.
O poema é um furto.
O poeta
é um larápio de luzes
que ele confunde com musas.
De pouco
o poeta é autor:
um contrabando de ser,
um fingimento de fazer.
Muito antes de escrito
já o poema existia.
Antes de o tempo
a si mesmo se dizer,
no sopro que criou o criador,
já a palavra ali esperava.
Faltava apenas
quem lhe encostasse a alma
e, no redondo da mão,
lhe devolvesse
o leito e o seio.
Lavrador,
mais do que poeta:
eis o meu único lavor.
Mia Couto
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