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segunda-feira, 21 de julho de 2025

Mia Couto

 

Jul



Em mim, 
não saudeis o poeta. 

O poema é um furto. 

O poeta 
é um larápio de luzes 
que ele confunde com musas. 

De pouco 
o poeta é autor: 
um contrabando de ser, 
um fingimento de fazer. 

Muito antes de escrito 
já o poema existia. 

Antes de o tempo 
a si mesmo se dizer, 
no sopro que criou o criador, 
já a palavra ali esperava. 

Faltava apenas 
quem lhe encostasse a alma 
e, no redondo da mão, 
lhe devolvesse 
o leito e o seio. 

Lavrador, 
mais do que poeta: 
eis o meu único lavor.


Mia Couto






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