Seguidores

quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

Luís Miguel Nava

 




Escrever é, para mim, tentar desfazer nós, embora o que na realidade 
acabo sempre por fazer seja embrulhar ainda mais os fios. A própria 
caligrafia é sufocada. 
Há, todavia, um momento em que as palavras são cuspidas, saem 
em borbotóes, e o sangue e a saliva impregnam o sentido. É impossível 
separá-los. 
Por trás talvez não haja mesmo nada. São palavras que não estão 
ginasticadas, que secam e encarquilham como folhas por que a seiva já não 
passe. 
Oprimem toda a página, através da qual deixa de ser possível respirar. 
Tapam-lhe os poros. A própria chuva que neles caia não se escoa.


Luís Miguel Nava



Sem comentários: