Jan
tem os braços esticados, dorme
como as antigas bonecas de porcelana, os braços ancorados em todos
os ventos
todas as seivas escorrendo, dorme
os misteriosos olhos de vidro sempre abertos, perturbam
dorme a fingir o sono
num plano recuado do sonho erguem-se os brinquedos de areia
ele estica os braços, mas não consegue o abraço das margens do rio
talhado à faca
há sempre um rio no fundo de cada sonho
uma planície líquida por trás de cada retrato
depois, ele feneceu ao anoitecer
porque é a essa hora que morrem as árvores, e surgem as dádivas da
água na carne dos cactos
refulgem corações escavados no cimento das casas
um cipreste entristecido sobe, perfuma o espaço com seu pólen
resplandecente
ele dorme, como um presságio os pássaros marítimos pressentiam-se nas
fendas do sono
na fuga cantante dos aquáticos pulsos
AL BERTO
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