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quarta-feira, 23 de outubro de 2024

Adélia Prado

 






Meu coração bate desamparado 
onde minhas pernas se juntam. 
É tão bom existir! 
Seivas, vergônteas, virgens, 
tépidos músculos 
que sob as roupas rebelam-se. 
No topo do altar ornado 
com flores de papel e cetim 
aspiro, vertigem de altura e gozo, 
a poeira nas rosas, o afrodisíaco 
incensado ar de velas. 
A santa sobre os abismos - 
à voz do padre abrasada 
eu nada objeto, 
lírica e poderosa. 


Adélia Prado




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