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segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

VASCO GRAÇA MOURA,

SONETO DE COMPANHIA
 
 
 
falo às vezes do amor, dos seus dilemas,
 e das noites de insónia em que me viro
 para um e outro lado, mas prefiro
 que o próprio amor escreva os meus poemas.
se o faz, à própria vida é que retiro
 casos por mim passados e outros temas,
 para depois usar estratagemas
 de mentira e verdade e lhes adiro.
e então digo e desdigo e contradigo
 o dito e o não dito, e deixo o gosto
 das entrelinhas do que não consigo
dizer de outra maneira e é suposto
 andar a vida toda em mim, comigo:
 e assim falo do amor e do teu rosto.


VASCO GRAÇA MOURA,

Em O RETRATO DE FRANCISCA MATROCO E OUTROS POEMAS (1998), Em POESIA REUNIDA, 2, (Quetzal, 2012)  



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