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quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Manuel António Pina /// TEMPO

Tempo
 
 
Naquele tempo falavas muito de perfeição,
 da prosa dos versos irregulares
 onde cantam os sentimentos irregulares.
 Envelhecemos todos, tu, eu e a discussão,
agora lês saramagos & coisas assim
 e eu já não fico a ouvir-te como antigamente
 olhando as tuas pernas que subiam lentamente
 até um sítio escuro dentro de mim.
O café agora é um banco, tu professora de liceu;
 Bob Dylan encheu-se de dinheiro, o Che morreu.
 Agora as tuas pernas são coisas úteis, andantes,
 e não caminhos por andar como dantes.

 Manuel António Pina  


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