CONTIGO À LAREIRA
Vem.
Senta no meu colo
aqui junto da lareira.
Quero conduzir-te
no descobrir das coisas simples,
essas coisas sem idade
onde, sem procura nem canseira,
está escondida a felicidade.
Vê,
lá fora o vento verga as árvores
e despenteia os pássaros.
O frio adormeceu as roseiras
e as pionias do jardim.
Existe uma gélida claridade
que abraça os ramos do jasmim.
Além, um bando de estorninhos,
manto negro a cortar os céus,
desce a procurar o gão
e as alvéolas vão atrás do arado
que rasga a terra a semear o pão.
Escuta
o chiar do carro puxado pelos bois
que se arrasta pela ladeira acima.
Em casa o calor nos une,
neste devir sem tempo
que cheira a pão fresco
e a café ao lume.
A gata enrosca o sono
num pedaço de tapete
com um filhote a dormir em cima
e o vaso da begónia
tem um pouco de verdete.
Na lareira saltam as faúlhas
e do cesto espreita um novelo
espetado por um par de agulhas.
Em cima da mesa,
porque alguém o trouxe,
está, ao pé das camélias,
um prato de arroz-doce.
Repara!
O sorriso escorre das conversas,
dos olhos a sinceridade,
na linguagem dos corpos
a cumplicidade
e o carinho veste os pequenos gestos
que adoça de pertença o dia a dia.
Sabes,
nesta beleza das pequenas coisas
não acontece solidão
nem tem lugar a nostalgia.
1 comentário:
adoro ler esta poetisa,é de uma sensibilidade imensa,apesar dos seus versos,serem por vezes tristes,mas reais,na vida!!!!!!
beijinho,Conde...
Quem é o borracho da foto!!!!Lindão
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