Seguidores

domingo, 29 de junho de 2025

Adolfo Casais Monteiro

 

Jun




A nossa história é simples: somos 
neste momento todo o amor na terra 
e nada mais importa, senão 
o que sou, verdade em ti, 
o que és, verdade em mim. 
Por isso este poema talvez não seja 
mais que um silêncio pela noite, 
nem verso, nem prosa, só 
uma oração ao deus desconhecido. 

Não é talvez senão o teu olhar, 
e tua esquiva mágoa, 
o teu riso e tuas lágrimas. 
E o apelo dentro de mim 
ao milagre de nos querermos, 
com a mágoa e com o riso,
- e teu olhar que vê em mim. 

Não sei pedir, sei só esperar. 
Mas já houve o milagre. Estava 
agora comigo ao longo das ruas, que antes 
eram só casas de pálpebras cerradas. 
Estava no silêncio, que antes 
era mortal. 

E tu, sem eu saber, estavas comigo. 
E sem eu saber de súbito na treva 
buliram asas 
e sem eu saber era já dia. 


Adolfo Casais Monteiro






terça-feira, 24 de junho de 2025

A Despedida | Poema de António Correia de Oliveira com narração de Mundo...





Os poetas fazem falta ao mundo, ajude-nos a manter a paixão pela Poesia



Três modos de despedida
Tem o meu bem para mim:
- «Até logo»; «até à vista»:
Ou «adeus» - É sempre assim.

«Adeus», é lindo, mas triste;
«Adeus» ... A Deus entregamos
Nossos destinos: partimos,
Mal sabendo se voltamos.

«Até logo», é já mais doce;
Tem distancia e ausência, é certo;
Mas não é nem ano e dia,
Nem tão-pouco algum deserto.

Vale mais «até à vista»,
Do que «até logo» ou «adeus»;
«À vista», lembra, voltando,
Meus olhos fitos nos teus.

Três modos de despedida
Tem, assim, o meu Amor;
Antes não tivesse tantos!
Nem um só... Fora melhor.

António Correia de Oliveira (n. em S. Pedro do Sul a 30 Jul 1879; m. em Belinho, Esposende a 20 Fev 1960)

BALADA de NEVE

 

Balada da Neve - Augusto Gil



Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.

É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho...

Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.

Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria...
- Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!

Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho.

Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança...

E descalcinhos, doridos...
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!...

Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!...

E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
- e cai no meu coração.

Augusto César Ferreira Gil (n. em Lordelo do Ouro, Porto a 31 de julho de 1873 e faleceu em Lisboa a 26 de fevereiro de 1929

Roseira Brava





Música: Roseira Brava

Intérprete: Adriano Correia de Oliveira

Estou além - António Variações (letra)







segunda-feira, 23 de junho de 2025

A Verdade e a Mentira

 A Verdade

e a
Mentira







Pedro Almodôvar, esse talentoso cineasta espanhol, quando tinha nove anos, no início dos anos 60, mudou-se com a família da aldeia da Mancha, onde nasceu, para uma outra na Estremadura, onde a maioria dos habitantes eram analfabetos, o que foi identificado como uma oportunidade de negócio pela mãe, que logo montou, em sociedade com o filho, um comércio de leitura e escrita de cartas.

Como tinha uma caligrafia muito bonita, ele escrevia as cartas, enquanto a mãe se encarregava da leitura. Cedo, Pedro começou a reparar que a mãe romanceava o que estava escrito nas cartas, e um dia não se conteve e perguntou-lhe:

- Por que lhe disseste que ela sente saudades da avó e se lembra muitas vezes dela a lavar a roupa numa bacia cheia de água à porta de casa, se na carta nem sequer fala na avó?

Ao que a mãe o calou com uma resposta desarmante:

- Mas viste como a avó ficou contente?!!!

“A realidade precisa da ficção para ser mais completa, mais agradável, mais vivida” escrevia o cineasta no dia a seguir ao da morte da mãe.

Um sábio de outro século, de outra arte e de outra geografia, Fiodor Dostoievski tinha chegado à mesma conclusão quando nos avisou:

- “Para tornar a realidade mais verosímil precisamos necessariamente de adicionar a mentira”





sábado, 21 de junho de 2025

O ERRO DOS......

 O Erro dos Abades










Um jovem noviço chegou ao mosteiro e logo lhe deram a tarefa de ajudar os outros monges a transcrever os antigos cânones e regras da Igreja.
Ele se surpreendeu ao ver que os monges faziam o seu trabalho, copiando a partir de cópias e não dos manuscritos originais.

Foi falar com o velho abade e sugeriu que, se alguém cometesse um erro na primeira cópia, esse erro se propagaria em todas as cópias posteriores.

O abade respondeu-lhe que há séculos copiavam da cópia anterior, mas que achava procedente a observação do noviço.

Na manhã seguinte, o abade desceu até às profundezas do porão do mosteiro, onde eram conservados os manuscritos e pergaminhos originais, intocados há muitos séculos.

Passou-se a manhã, a tarde e a noite, sem que o abade desse sinal de vida.

Preocupado, o jovem noviço decidiu descer e ver o que estava acontecendo. Encontrou o velho abade completamente descontrolado, possesso, com as vestes rasgadas, desgrenhado, batendo com a cabeça ensanguentada nos veneráveis paredes do mosteiro.

Espantado, o jovem monge perguntou:

- Abade, o que aconteceu?

- Aaaaaaaahhhhhhhhhh!!!...

CARIDADE... era CARIDADE!

Eram votos de "CARIDADE" que tínhamos que fazer...não de


"CASTIDADE"!!!



Todos os erros se pagam mas o dos abades,qualquer abade, esses pagam.se com juros...