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segunda-feira, 30 de maio de 2016

Angelina Alves

 
"Entre as nuvens"
Beijei os degraus do teu espaço
 
O meu desejo traz o perfume da tua noite
...
Murmurando nos meus cabelos
A doçura dos teus beijos quentes
Desfiz-me contigo no arco
Do pleno Verão sonhos ardentes
Pensamentos de brisa
Sorrisos no deserto
Do amor tão belo como a vida.
Beijei os degraus do teu espaço
Descobri as tuas mãos
Corre em mim o lacre e a cânfora
Ergue-se a tua boca
Ao círculo do meu pensamento
Onde estará o mar? Fico louca
Embriagada voo sobre o teu sorriso imenso
Em meu espasmo viverei contigo.
Peço agora ao vento:
Traz do espaço a luz inocente das urzes
Transporta no teu silêncio
A lua vermelha
E, faz-me sentir o odor da flor da giesta
Assim os meus olhos irão vê-la
A lua vermelha aquela lua
Minha e tua
Noite mais pura mais bela.
 
 
 
Angelina Alves  
 
 
 
 

Alexandra

  não quero falar de ti
nem do tempo sumido
nos silêncios das palavras
que não dissemos
porque existimos ainda...

na maresia azul dos oceanos
e nos arco-íris que pintámos
descuidadamente
uma e outra vez
existimos na brisa das marés
e nos passos escritos na areia
são nossas as mãos-coral
que ondulam nos recifes da memória
aí perduramos
perpétuos
nesse retiro encantado
e hoje a minha solidão
 
é este punhado de lembranças
 
alexandra, outubro 2015  
 
 
 
 

sábado, 28 de maio de 2016

são reis

De ti quero apenas o silêncio
que desce a medo pelo teu pescoço
te polvilha os olhos...

te ilumina o rosto
e te deixa nessa agonia
de não saber se é noite ou dia
De ti quero apenas a luz
nessa boca que tanto me diz
e seduz
quero o infinito
quero o grito
que não digo
quero o meu amor amigo
quero apenas ser feliz

 
 
 
  são reis

sexta-feira, 27 de maio de 2016

Mary Sara Schmidt

Um amor...até o além
Foste uma caso sério,o mais sério...
Um amor feito de admiração
Um amor feito de lembranças ...

Um amor feito pela alma que sente
Foi de chamas que queimaram e marcaram
Uma tatuagem tua ficou gravada para sempre
Em minha alma que errante pede por ti em sonhos
Onde estás, onde foste, dei uma volta e já partias...
Em alguma estrela hei de reencontrar a ti
Já refeita, nem sei se inteira
Fui tua musa de mil inspirações
Agora não sou mais nada, só ilusões e sonhos
Que ficaram num passado onde tu eras tudo
Ficou a saudade que dói e fere quando respiro
Não quero acordar pois posso chorar
Este choro que ficou para depois...



Mary Sara Schmidt    /2015  



 

Alice Queroz

Das palavras
de algumas palavras
temos de conhecer mais
que seu significado,
temos de lhes sentir o tacto...

o gosto, ouvir a voz,
temos de as provar
beber, comer, saborear
mastigar suavemente
e depois com ternura,
as engolir para que permaneçam
guardadas em nós.
Amor! O que é amor
se não for vivido!

 
 

 Alice Queiroz
in “Jardim de Afectos”,  
 
 
 

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Maria Teresa Horta

Quem? 
 
    
Quem disse 
que esta ausência te devia? 

Quem pensou 
que esta denúncia se enganava? 

Que um dia era pior 
que outro dia 
Que à noite era melhor 
porque sonhava? 

Quem disse 
que esta dor te pertencia? 

Quem pensou que este amor 
me perturbava? 

Que o longe era mais perto 
se fugias 
Que o dentro era mais longe 
porque estavas? 

Quem disse 
que este ardor te evidência? 

Quem pensou que esta pena 
me cansava? 

Que calar era pior 
se te despia 
Que gritar era pior 
se te largava? 

Quem disse 
que esta paixão me curaria? 

Quem pensou que esta loucura 
me passava? 

Que deixar-te era paz 
porque corria 
Que querer-te era mau 
porque te amava? 

Quem disse 
que esta paixão te espantaria? 

Quem pensou que esta saudade 
me rasgava? 

Que tudo era diferente 
se te via 
Que o pior era saber 
que aqui não estavas? 

Quem disse 
que esta ternura te devia? 

Quem pensou que este saber 
se enganava? 

Neste langor crescente 
que crescia 
Neste entender de nós 
que cintilava?


Maria Teresa Horta 
 
 
 

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Mário Benedetti

Bem-vinda


Ocorre-me que vais chegar distinta...
não exactamente mais linda
nem mais forte
nem mais dócil
nem mais cauta
somente que vais chegar distinta
como se esta temporada de não me veres
te tivesse surpreendido a ti também
talvez porque sabes
como te penso e te enumero
depois de tudo a nostalgia existe
ainda que não choremos nos corredores fantasmáticos
nem sobre as almofadas de candor
nem por baixo do céu opaco
eu nostalgio
tu nostalgias
e que me interessa que ele nostalgie
o teu rosto é vanguarda
talvez chegue primeiro
porque o pinto nas paredes
com traços invisíveis e seguros
não esqueças que o teu rosto
me olha como povo
sorri e enfurece-se e canta
como povo
e isso dá-te uma luz
inapagável
agora não tenho dúvidas
vais chegar distinta e com sinais
com novas
com profundidade
com franqueza
sei que vou querer-te sem perguntas
sei que vais querer-me sem respostas
  
 
 
 
Mário Benedetti  
 
 
 
 
 
 

terça-feira, 24 de maio de 2016

Maria Olinda Mais ( M.O.M )

Em sonho...
 
 
 
Em sonho
vi alegria doce
sonhei contigo...
...
Em sonho
não hà antes nem depois
porque já existe amor.
Sonhar contigo
é como o sol agradável
para mim.
E lá estavas tu...
Com um sorriso no rosto.
Eu me aproximava ainda mais de ti
e procurava a tua mão,
era tudo uma doçura
e o teu beijo parecia acordado,
em sonho como é na vida.
Abri os olhos
e o sonho estava vivo.
 
 
 
 
M.O.M  
 
 
 
 

Albano Martins

Deixa que os meus olhos se fechem




Deixa que os meus olhos se fechem
E confiem um minuto nos teus…
Olha por mim, protege o meu sonho
Vigia o meu descanso e afasta-me de todas as mágoas
Com os teus beijos apaga as lágrimas que correm pelo
meu rosto
Envolve-me nos teus braços e, cuida de mim
Preciso do teu apoio, do teu abraço, do teu sentido
Deixa-me descansar e,
Adormecer no teu peito
Deixa que os meus olhos durmam
nos teus…
Deixa-me sonhar
Deixa que sonhe com a tua boca
Com as tuas mãos, com os teu beijos,
Com teu corpo na minha pele
Com o teu calor a queimar-me por dentro
Com tudo o que quero de ti
Deixa que os meus olhos despertem
com o sol a romper nos teus olhos…
 
 

Albano Martins 






Postagem em especial para :

Mountain View ///   Califórnia  , porque me visita

quase diariamente.

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Helena Guimarães

O ABRAÇO
 
 
 
 
Sentávamo-nos à tarde na esplanada. ...
O sol no ocaso
purpureava o céu
e espreguiçava-se em prata sobre o mar;
a brisa trazia
murmúrios de concha
nos dedos finos
com que nos afagava os cabelos.
As palavras nasciam puras
e a vida parava ali,
num remanso morno de sorriso,
sem tempo,
sem mágoa,
o olhar elanguescido
de sol, de cor e de corpos morenos,
os sentidos prenhes dos odores mornos
de café e tabaco.
Sentávamo-nos à tarde na esplanada
tecendo no vazio do tempo
os fios do abraço
que nos adoçava a vida.


Helena Guimarães ( premiado em Montevideu)  



 

domingo, 22 de maio de 2016

Maria Teresa Horta

Desperta-me de noite
O teu desejo...

Na vaga dos teus dedos
Com que vergas
O sono em que me deito
É rede a tua língua
Em sua teia
É vício as palavras
Com que falas
A trégua
A entrega
O disfarce
E lembras os meus ombros
Docemente
Na dobra do lençol que desfazes
Desperta-me de noite
Com o teu corpo
Tiras-me do sono
Onde resvalo
E eu pouco a pouco
Vou repelindo a noite
E tu dentro de mim
Vai descobrindo vales.
 
 
 
MARIA TERESA HORTA  
 
 
 

sábado, 21 de maio de 2016

Isabel de Sousa

A palavra
Há uma fogueira acesa no interior da palavra:...
um rio que corre para o sol de Março.
estende os seus braços para a nascente
onde o sentir se espraia no caminho da Fonte
e é lá que cabem todos os sonhos
vestidos de Verdade.
Correm para a Foz, adentram o mar
abraçam a luz ,onde pelo Verbo
tudo se cria
Há um horizonte aberto nos olhos do sentir
e é lá que a Primavera amadurece
no interior da palavra, que em verdade
te digo
sem mácula e sem reflexos distorcidos
no espelho da alma
devolvendo(nos) o melhor
que houver em nós!!!!
 
 
Isabel de Sousa   
 
 
 

sexta-feira, 20 de maio de 2016

Braile de Nuno Júdice

Braile


Leio o amor no livro...

da tua pele; demoro-me em cada
sílaba, no sulco macio
das vogais, num breve obstáculo
de consoantes, em que os meus dedos
penetram, até chegarem
ao fundo dos sentidos. Desfolho
as páginas que o teu desejo me abre,
ouvindo o murmúrio de um roçar
de palavras que se
juntam, como corpos, no abraço
de cada frase. E chego ao fim
para voltar ao princípio, decorando
o que já sei, e é sempre novo
quando o leio na tua pele


Nuno Júdice  



quinta-feira, 19 de maio de 2016

Outra poesia de Salvatore Quasimodo


La terra impareggiabile       

  Salvatore Quasimodo

Da tempo ti devo parole d'amore:
o sono forse quelle che ogni giorno
sfuggono rapide appena percosse
e la memoria le teme, che muta
i segni inevitabili in dialogo
nemico a picco con l'anima. Forse
il tonfo nella mente non fa udire
le mie parole d'amore o la paura
dell'eco arbitraria che sfoca
l'immagine più debole d'un suono
affettuoso: o toccano l'invisibile
ironia, la sua natura di scure
o la mia vita già accerchiata, amore.
O forse è il colore che le abbaglia
se urtano con la luce
del tempo che verrà a te quando il mio
non potrà più chiamare amore oscuro
amore già piangendo
la bellezza, la rottura impetuosa
con la terra impareggiabile, amore.

A terra incomparável

Faz tempo que te devo palavras de amor:
Ou, talvez, sejam as que cada dia
Fogem depressa apenas pronunciadas
e a memória as teme, que mude
os signos inevitáveis no diálogo
inimigo inflamado da alma. Talvez
o rumor da mente nos faça ouvir
minhas palavras de amor ou o medo
do eco arbitrário que desfoca
a imagem mais débil de um som
afetuoso: o tocam a invisível
ironia, sua natureza de foice
ou minha vida já cercada, amor .
Ou talvez seja a cor que as deslumbra
que se chocam com a luz
do tempo que virá a ti quando o meu
já não possa mais chamar amor obscuro
amor já chorando
a beleza, a ruptura impetuosa
com a terra incomparável, amor.

Al Berto

Confissão
 
 
 
 

 sabes
por vezes queria beijar-te ...

sei que consentirias
mas se nos tivéssemos dado um ao outro ter-nos-íamos separado
porque os beijos apagam o desejo quando consentidos
foi melhor sabermos quanto nos queríamos
sem ousarmos sequer tocar nossos corpos
hoje tenho pena
parto com essa ferida
tenho pena de não ter percorrido teu corpo
como percorro os mapas com os dedos teria viajado em ti
do pescoço às mãos da boca ao sexo
tenho pena de nunca ter murmurado teu nome no escuro
acordado
perto de ti as noites teriam sido de ouro
e as mãos teriam guardado o sabor de teu corpo
ah meu amigo  (     ..... minha amiga )
estou definitivamente só


Al Berto  




 

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Fernando Pessoa

Hoje estou triste, estou triste.



Hoje estou triste, estou triste....

Estarei alegre amanhã...
O que se sente consiste
Sempre em qualquer coisa vã.
Ou chuva, ou sol, ou preguiça...
Tudo influi, tudo transforma...
A alma não tem justiça,
A sensação não tem forma.
Uma verdade por dia...
Um mundo por sensação...
Estou triste. A tarde está fria.
Amanhã, sol e razão.
 
 
 
Fernando Pessoa   
 
 
 
 
 
 
 
 

terça-feira, 17 de maio de 2016

Isabel de Sousa

Pendurei o teu olhar
nas asas de uma gaivota
no litoral branco do mar
onde as palavras escorregam...
no coração das cidades...

à equidistância do abraço
no vértice do infinito
prolonguei no horizonte
as linhas do equilátero
e a gaivota retornou
na rotação das marés
e trouxe-me o teu olhar
num raio de sol nascente...
aconcheguei a ternura
na concha das minhas mãos
onde o amor acontece
na urgência dos sorrisos
na tangente do sentir
neste refúgio de alma
a transbordar por ti
eternamente


Isabel Sousa  



segunda-feira, 16 de maio de 2016

POR TI / Paula Raposo

 
Por ti...
Damos as mãos, em simultâneo,
nem sequer nos olhamos,
basta o tacto, e esse calor
húmido que me inebria.
Quero sentir-te,
fervilhar no afago da tua mão,
e derreter-me nas mãos do nosso amor.
Não me deixes,
segura-me ainda,
aperta-me, enlouquece-me;
desliza pelo meu corpo
que te espera, entra em mim.
Deixa que eu me entregue
pelo tempo que o tempo dura,
vive por mim, em mim,
o momento de ser tua.
 
 
 
Paula Raposo in ' canela e erva doce' , pág.11, 2006 - Magna Editora
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

domingo, 15 de maio de 2016

Helena Guimarães /// Deixa só

Deixa só que os meus olhos
acariciem teu corpo,
mesmo de longe e sózinhos.
No meu caminho de escolhos
o ver-te é chegar ao porto.
Vencer os ventos daninhos.
Meus olhos não te magoam
quando exploram, dolentes,
o teu corpo de mansinho.
Não te julgam. Só perdoam.
Bebem-te os gestos , frementes,
e cobrem-te de carinho.
Olhar-te , estou consciente.
é flôr de suave fragância,
aromas desconhecidos.
Só por si é suficiente
para diminuir esta ânsia
e adormecer os sentidos.
Deixa pois que os meus olhos
o teu corpo acariciem
mesmo de longe , ansiosos
E como flor entre abrolhos
só de ver-te se saciem
e deixem de estar saudosos.


Helena Guimaraes
Do livro "" Intimidades/1994 ""




sábado, 14 de maio de 2016

Estrela da Tarde

 
Estrela da Tarde

Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia
Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca tardando-lhe o beijo morria. ...

Quando à boca da noite surgiste na tarde qual rosa tardia
Quando nós nos olhámos, tardámos no beijo que a boca pedia
E na tarde ficámos, unidos, ardendo na luz que morria
Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste o sol amanhecia
Era tarde de mais para haver outra noite, para haver outro dia.


Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça
E o meu corpo te guarde.
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria
Ou se és a tristeza.
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza!


Foi a noite mais bela de todas as noites que me adormeceram
Dos nocturnos silêncios que à noite de aromas e beijos se encheram
Foi a noite em que os nossos dois corpos cansados não adormeceram
E da estrada mais linda da noite uma festa de fogo fizeram.
Foram noites e noites que numa só noite nos aconteceram
Era o dia da noite de todas as noites que nos precederam
Era a noite mais clara daqueles que à noite se deram
E entre os braços da noite, de tanto se amarem, vivendo morreram.


Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça
E o meu corpo te guarde.
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria
Ou se és a tristeza.
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza!

Eu não sei, meu amor, se o que digo é ternura, se é riso se é pranto
É por ti que adormeço e acordado recordo no canto
Essa tarde em que tarde surgiste dum triste e profundo recanto
Essa noite em que cedo nasceste despida de mágoa e de espanto
Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto!
 


 Ary dos Santos, in 'As Palavras das Cantigas'
  
 
 
 
 

sexta-feira, 13 de maio de 2016

Devaneio

Inspiro-me no vazio, nas mágoas e na saudade 
Danço abraçado á  chuva que lava o meu rosto mascarado de Pierrot
Suavemente me deixo guiar e com os olhos fechados aceito a tua mão, 
Os meus pés tocam os teus e acompanhamos o violino, uma melodia feita para nos dois…
Um lamento, uma voz .... e um grito de prazer que fica no ar, neste instante suplico que me dispas, que me ames e penetres no fundo da minha alma...
 
 
 
´
 
 
 
.. 

quinta-feira, 12 de maio de 2016

são reis


E sem palavras te amei
e muda te recordo
Talvez a pele ainda te reconheça
se um dia te tocar
Tu vais morrendo aos poucos
no meu silêncio
desaparecendo na memória
do ultimo beijo
deixando um hálito fresco a saudade
porque toda a saudade se quer fresca e inteira
assim como um canteiro
que se rega e cuida todos os dias
Não vá o silêncio e o beijo
morrerem para sempre na mudez dos meus lábios

 


são reis








 

quarta-feira, 11 de maio de 2016

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto....

Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.
Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu,
enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?
Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.
Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.
 
 

 CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE    
 
 
 
 

©Susana Maurício

ÊXTASE
 
 
 

 Junto à janela aberta,
Os raios solares em meu rosto
faziam-no resplandecer de forma surreal....

Silencioso chegaste, e de mim te aproximaste.
Encostaste teu corpo em minhas costas
e com teus braços me enlaçaste.
Minha boca, agora com um sorriso atrevido.
Meu pescoço mordiscaste e com a lingua afagaste.
Tuas mãos se moveram e meus seios acariciaste.
Mudou... o tom e o ritmo da nossa respiração.
Movimentei as ancas, como na dança do ventre,
Rocei sem pudor minhas nádegas em teu sexo.
Senti-o num frémito, vibrante, pleno de excitação.
Lentamente em teus braços mudei de posição.
Frente a frente ficámos., olhámo-nos com emoção.
Corpos num amplexo colados.
Beijo terno e sôfrego, na urgência dos sentidos.
Como duas crianças, com nossos corpos brincámos
até ficarmos... ensandecidos.
Teu sexo... meu sexo, no encontro desejado.
Consumação adiada, no jogo erótico e sensual
de preliminares ousados, que nos levaram ao delírio.
Nossos néctares... degustámos e saboreámos.
Em êxtase, entre gemidos, na pureza de um lírio,
por mais um pouco adiámos o orgasmo final.
Meu prazer... teu prazer, é nosso gozo de amor.
Embriagados pelos sentires da carne,
na entrega com ternura, no pele com pele,
almas unidas, com desejo consumimos com ardor,
o fogo incandescente que alastrou e nos impele,
soltar em nós, o momento divinal... libertador.
Entre minhas entranhas navegaste.
Teu barco, no meu mar entrou... não se afundou.
Elevámo-nos , o mundo parou e, noutra galáxia,
a explosão orgástica, com loucura se manifestou.
Pecado? Não! É o amor repleto de nossa energia.
Palavra que quem o Amor na vida consagrou?
Êxtase!
 
 
 

©Susana Maurício
2013
(ao abrigo do código do direito de autor)




segunda-feira, 9 de maio de 2016

NUNO JUDICE

NUNO JUDICE /// PRESENTE


Queria neste poema a cor dos teus olhos
e queria em cada verso o som da tua voz:
depois, queria que o poema tivesse a forma
do teu corpo, e que ao contar cada sílaba
os meus dedos encontrassem os teus,

fazendo a soma que acaba no amor.

Queria juntar as palavras como os corpos
se juntam, e obedecer à única sintaxe
que dá um sentido à vida; depois,
repetiria todas as palavras que juntei
até perderem o sentido, nesse confuso
murmúrio em que termina o amor.

E queria que a cor dos teus olhos e o som
da tua voz saissem dos meus versos,
dando-me a forma do teu corpo: depois,
dir-te-ia que já não é preciso contar
as sílabas, nem repetir as palavras do poema,
para saber o que significa o amor.
Então, dar-te-ia o poema de onde saíste,
como a caixa vazia da memória, e levar-te-ia,
pela mão, contando os passos do amor.


NUNO JUDICE 

 


in O ESTADO DOS CAMPOS (Pub. Dom Quixote, 2003)

Eugenio de Andrade

Impetuoso, o teu corpo é como um rio






 Impetuoso, o teu corpo é como um rio...
onde o meu se perde.
Se escuto, só oiço o teu rumor.
De mim, nem o sinal mais breve.
Imagem dos gestos que tracei,
irrompe puro e completo.
Por isso, rio foi o nome que lhe dei.
E nele o céu fica mais perto.
 
 
Eugénio de Andrade   
 
 
 

domingo, 8 de maio de 2016

De Orlando Zabelo //// SEMPRE.....................................

 
 
 
 
Queria estar contigo ...
Para ser o palhaço
Que te fizesse rir,
Para te dar o ombro
Onde repousasse a tua cabeça
Para descansar,
Para te dar o abraço
Que te confortasse,
Para chorar por ti
E não quebrares tu,
Para te dar a mão
Se perderes a força ao caminhar,
Para tudo isso e muito mais
Queria estar aí
Junto de ti...
Como a tua sombra,
Podes nem dar por ela
Mas sabes que te acompanhará

  Sempre...



Orlando Zabelo  





 

Pablo Neruda

Desejo
Quero apenas cinco coisas...
Primeiro é o amor sem fim
A segunda é ver o Outono...

A terceira é o grave Inverno
Em quarto lugar o Verão
A quinta coisa são teus olhos
Não quero dormir sem teus olhos.
Não quero ser... sem que me olhes.
Abro mão da Primavera para que continues me olhando.
 
 
 

Pablo Neruda  
 
 
 
 

sábado, 7 de maio de 2016

Uma poesia de Carmen del Río Bravo

                                                                 RÍNDETE         

Carmen del Río Bravo

Ya sé que rendirse tiene mala prensa.
Pero ríndete.

Deja que el dolor te doble.
Que el miedo te pare.
Que el sueño te venza.

Ríndete.
Doblada. Parada. Vencida.
Levántate.

Tú yo sabemos que
de nuevo.
Estárás lista.

Desiste

Eu sei que a render-se tem má fama.
Porém, rende-te.

Deixa que a dor te dobre.
Que o medo te pare.
Que o medo te vença.

Desiste.
Dobrada. Parada. Vencida.
Levanta-te.

Tu e eu sabemos que
de novo.
Estarás pronta.

Clarice Lispector

Gosto das bebidas mais fortes,dos amores mais loucos,dos pensamentos mais complexos e dos sentimentos mais intensos.Tenho um apetite voraz e os delírios mais do...idos.Você pode até me empurrar do penhasco e eu vou dizer: E DAÍ? EU ADOROO VOAR! Eu não pretendo passar pela vida na ponta dos pés,sem fazer barulho. Se as pessoas que falam mal de mim soubessem o que eu penso delas,ficariam caladas.Vivo cada dia como se fosse o último e faço tudo com a máxima intensidade e paixão possível.Acredito no amor que completa e não naquele que procura impor suas vontades."




Clarice Lispector  




 

sexta-feira, 6 de maio de 2016

Carlos Gargallo //// Quédate aquí....... ...

 Quédate aquí....... ...
 
 

Conozco tu sal y el rayo que te ilumina,
el brillo de tu voz sobre mis marismas.
Fuente eres recorriendo los azules de la tarde,
compañera de suspiros elegidos
en el temblor de nuestras manos
cuando nos abrazamos.
Estás allí
en donde el agua nace
y en el caudal fértil de tu cuerpo
ondeando los besos al viento.
Hueles a violetas y mar,
mediterránea creces a cada instante
en el verso prolongado,
habanera de luz
que eriza mi alma.
Me conoces, ya lo sabes.
Quédate aquí
sobre esta blanca arena
tumbados mirando al cielo,
nuestros ojos serán estrellas,
y nuestras sonrisas,
de las olas, serán espuma.
 
 
 
 
Carlos Gargallo