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quarta-feira, 31 de outubro de 2012

PARTIR SEM ADEUS



Partir sem um adeus que desfizesse
O erro a que levou o nosso amor
Partir sem se fazer uma só prece


Navio Escola Sagres
É dor que dói ainda com mais dor

Deixar esse passado que vivemos

Com horas feitas de felicidade
É ter e não saber o que queremos
Para morrer nos braços da saudade

Não partas num adeus

Tão friamente
Sem antes reatarmos
O desejo
Não partas meu amor
Sem docemente
Prendermos nossas bocas
Num só beijo

Partir sem o minuto de um adeus

Dum gesto que ficasse na partida
É ver partir amor dos olhos teus
A luz que tanta vez me deu a vida

Ficar assim parado à tua espera

No tempo e no espaço além de nós
É ter nos olhos tristes a quimera
E um fado a soluçar dentro da voz



Letra: Fernando Campos de Castro

Paraíso


 

Deixa ficar comigo a madrugada,

para que a luz do Sol me não constranja.
Numa taça de sombra estilhaçada, 

 deita sumo de lua e de laranja


Kahina.

Arranja uma pianola, um disco, um posto,
onde eu ouça o estertor de uma gaivota...
Crepite, em derredor, o mar de Agosto...
E o outro cheiro, o teu, à minha volta!

Depois, podes partir. Só te aconselho

que acendas, para tudo ser perfeito,
à cabeceira a luz do teu joelho,
entre os lençóis o lume do teu peito...

Podes partir. De nada mais preciso

para a minha ilusão do Paraíso.



David Mourão-Ferreira

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Inocência


 Vou aqui como um anjo, e carregado 
De crimes! 
Com asas de poeta voa-se no céu... 
De tudo me redimes, 
Penitência 
De ser artista! 
Nada sei, 
Nada valho, 
Nada faço, 
E abre-se em mim a força deste abraço 
Que abarca o mundo! 

Tudo amo, admiro e compreendo. 
Sou como um sol fecundo 
Que adoça e doira, tendo 
Calor apenas. 
Puro, 
Divino 
E humano como os outros meus irmãos, 
Caminho nesta ingénua confiança 
De criança 

Que faz milagres a bater as mãos.    De: Miguel Torga/in Penas do Purgatório  

Abraça-me

Abraça-me. Quero ouvir o vento que vem da tua pele, e ver o sol nascer do intenso calor dos nossos corpos. Quando me perfumo assim, em ti, nada existe a não ser este relâmpago feliz, esta maçã azul que foi colhida na palidez de todos os caminhos, e que ambos mordemos para provar o sabor que tem a carne incandescente das estrelas. Abraça-me. Veste o meu corpo de ti, para que em ti eu possa buscar o sentido dos sentidos, o sentido da vida. Procura-me com os teus antigos braços de criança, para desamarrar em mim a eternidade, essa soma formidável de todos os momentos livres que a um e a outro pertenceram. Abraça-me. Quero morrer de ti em mim, espantado de amor. Dá-me a beber, antes, a água dos teus beijos, para que possa levá-la comigo e oferecê-la aos astros pequeninos. 
Só essa água fará reconhecer o mais profundo, o mais intenso amor do universo, e eu quero que dele fiquem a saber até as estrelas mais antigas e brilhantes. 
Abraça-me. Uma vez só. Uma vez mais. 
Uma vez que nem sei se tu existes. 
 
Joaquim Pessoa, in 'Ano Comum'

ana
   

 

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Após o banho, nua




Após o banho, nua
ainda, o corpo húmido
ao meu encontro, visão,
relembro, cálido êxtase,
os seios entrevistos


Mistery
no decote frouxo, agora, nua,
toalha molhando-se, ressurgem
após o banho,
fremindo, suave embalo, avidez
de língua e mãos, nua, vens,
perfume, sulcos na pele,
ansiada espera, curvas, a entrega
ao meu olhar, bocas, rosa
túmida, pétala, sucção, espuma,
resplandeces para mim, nua,
após o banho.


Fernando Py

sábado, 27 de outubro de 2012

O amor é o amor



O amor é o amor - e depois?!
 
Dias inteiros nas arvores

Vamos ficar os dois
a imaginar, a imaginar?..

O meu peito contra o teu peito,
cortando o mar, cortando o ar.
Num leito
há todo o espaço para amar!

Na nossa carne estamos
sem destino, sem medo, sem pudor,
e trocamos - somos um? somos dois? -
espírito e calor!
O amor é o amor - e depois?!



Alexandre O´Neill

QUERO LÁ SABER DOS OLHOS



Quero lá saber dos olhos
Que não sejam os teus olhos
Acesos dentro de mim
Como dois lagos de calma
Que me sossegam a alma
Num amor que não tem fim

Quero lá saber da boca

Que não seja a tua boca
Sobre a minha com loucura
Junto à lua dos teus dedos
Onde habitam mil segredos
Que dão luz à noite escura

Quero lá saber dos braços

Que não sejam os teus braços
Onde me entrego em desejo
Junto às tuas mãos libertas
Como janelas abertas
À tempestade dum beijo

Olhos, boca, corpo amado

Lilium.
Razão de ser deste fado
Que é o fado de te amar
Braços corpo, mãos acesas
Onde não moram tristezas
Nem mais ninguém tem lugar
 
 
De: Fernando Campos de Castro


sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Meu grito




Hoje me deu vontade de gritar bem alto
minha saudade
minhas mil fases de desilusão
Só hoje eu queria te falar sobre tudo
...por onde andei
...o que senti
o tanto que me esvaziei
Queria poder dizer
olhando dentro dos teus olhos
o quanto eu morri por dentro
o quanto eu te chamei
e você, em nenhum momento
pensou um minuto no meu sentimento
como se tudo fosse uma brincadeira
como se não valesse a pena
Você sabe que compreendo tudo
você sempre soube
Mas hoje
especialmente hoje
preciso desabafar
quero gritar minhas inverdades
sujar esta compreensão milenar
e ao mesmo tempo
te mostrar mais uma vez
que não me encontrei em nenhum abraço
que nenhum olhar me disse nada
que nenhuma boca me provou coisa nenhuma
que nenhum coração me mereceu
que nenhum contato real me fez sentir viva
que nenhuma palavra atingiu minha alma
e nenhuma promessa
foi tão verdadeira quanto a tua
Porque na verdade
nada e nem ninguém me interessa
Porque na verdade
morro de saudade do teu carinho...


Angela Lara

Imagem retirada do Google

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

danças comigo esta madrugada..




E tu!
És tudo o que eu imaginava que és…

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Raio de luz




Numa tarde morna de Maio,
O meu olhar baço e dormente
desenrolou-se sem sentido,
buscando uma imagem distante.
Um pássaro desprendeu-se do meu peito
gritou, voou sem nenhum destino,
e um novo olhar até aí,
plangente e perdido
dissolveu-se num raio de luz
e se afogou de encontr
o ao meu.


João-Maria Nabais

Imagem retirada do Google

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Sacode as nuvens




Sacode as nuvens que te poisam nos cabelos,
Sacode as aves que te levam


Chapéu Alto

o olhar.
Sacode os sonhos mais pesados do que as pedras.

Porque eu cheguei e é tempo de me veres,
Mesmo que os meus gestos te trespassem
De solidão e tu caias em poeira,
Mesmo que a minha voz queime o ar que respiras
E os teus olhos nunca mais possam olhar.


Sophia de Mello Breyner Andresen

domingo, 21 de outubro de 2012

Ternura




Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar
extático da aurora.

Vinícius de Moraes

Foto:Sergey Ryzhkov

Amostra sem valor




Eu sei que o meu desespero não interessa a ninguém.
Cada um tem o seu, pessoal e intransmissível:
com ele se entretém
e se julga intangível.

Eu sei que a Humanidade é mais gente do que eu,
sei que o Mundo é maior do que o bairro onde habito,
que o respirar de um só, mesmo que seja o meu,
não pesa num total que tende para infinito.

Eu sei que as dimensões impiedosos da Vida
ignoram todo o homem, dissolvem-no, e, contudo,
nesta insignificância, gratuita e desvalida,
Universo sou eu, com nebulosas e tudo.

António Gedeão

sábado, 20 de outubro de 2012

Soneto do Amor Total.....


 
 
Amo-te tanto, meu amor ... não cante
O humano coração com mais verdade
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.

Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.

[Vinícius de Moraes, Soneto do amor total]

E porque não???????

IMUTÁVEL
·
© Francisco Valverde Arsénio


Deixa-me ser assim

como as aves

e volátil como o vento

que me habita por dentro.



Deixa-me ser assim,

pequeno grão de areia

que não cabe na imensidão do deserto;

ser a pétala vermelha duma papoila,

a asa dum pardal


e a ponta difusa duma estrela.



Deixa-me ser assim,

vagabundo

como a luz do farol

e o traço indefinido

deixado por um avião.



Deixa-me ser assim

de olhar que foge


e de passos com reflexo,

desenhar as nuvens,

a chuva,

o vento e o mar;

deixa-me libertar a primavera

agrilhoada na flor

e limpar os olhos húmidos de sonhos.



Deixa-me ser assim… eu.

Esclarecimento


Dia 17 do corrente coloquei vários países que me visitaram nesse dia , pois, como tenho instalado um

sistema de pessoas que me visitam diariamente , repito só coloquei os que me visitaram , desculpem a

repetição do  verbo VISITAR..

Para que ninguem fique melindrado a partir daqui jamais mencionarei quem me visita.

Para todos , mais um poema :

Outubro 20, 2012

O beijo



Congresso de gaivotas neste céu
Como uma tampa azul cobrindo o Tejo.
Qurela de aves, pios, escaracéu.
Ainda palpitante voa um beijo.
Donde teria vindo! (não é meu...)
De algum quarto perdido no desejo?
De algum jovem amor que recebeu
Mandado de captura ou de despejo?
É uma ave estranha colorida,
Vai batendo como a própria vida,
Um coração vermelho pelo ar.
E é a força sem fim de duas bocas,
De duas bocas que se juntam, loucas!
De inveja as gaivotas a gritar...

Alexandre O'Neill

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Agradecimento pelas visitas ao blog

Portugal :

Queluz, Setubal, Braga, Porto, Mirandela, Vila Nova da Telha...

Brasil :

Medianeira, Foz do Iguaçu , João Pessoa , Tenente Portela, Baurú , Belem ,

Ibiporã, Aracariguama , Piui , recife ....

Untd  States :

Moutain View 2 , Greenwich 1 , Palo Alto...

Chile :

Santiago :

Angola

Moçambique

Swtzerland

Frauenfeld

Taiwan :


Está

Roberto Fernández Retamar

Ella está echada en la penumbra humedeciendo la
              madrugada inicial.
Hay un jardín en ella y él está deslumbrado en ese jardín.
Florece entera para él, se estremecen, callan con el mismo
              rumor.
La noche va a ser cortada por un viaje como por una
              espada.
Intercambian libros, papeles, promesas.
Ninguno de los dos sabe aún lo que se han prometido.
Se visten, se besan, se separan.
Ella sale a la oscuridad, acaso al olvido.
Cuando él regresa al cuarto, la encuentra echada en la
              penumbra húmeda.
Nunca ha partido, nunca partirá.
 
Está

Ela está fechada na penumbra umedecendo a  
madrugada inicial.               
Há um jardim dela e ele está se deslumbrando neste jardim.
Floresce inteira para ele, se estremecem, calam com o mesmo
               rumor.
A noite vai ser cortada por uma viagem como um
               espada.
Trocam livros, papéis, promessas.
Nem sabe ainda o que prometeram.
Eles se vestem, se beijam, se separam.
Ela sai do escuro, talvez para o esquecimento.
Quando ele volta para a quarto, a encontra fechada
              na penumbra úmida.
Nunca partiu, nunca partirá.
Asinchu

Germany :

Wetzlar

Do blog : spersivo


quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Poesia e não só....



Assim são as imagens poéticas:
Elas têm o poder de ir lá no fundo da alma
Onde moram os esquecimentos
E quando um desses esquecimentos acorda
A gente sente um estremeção no corpo
Essa é a missão da poesia:
Recuperar os pedaços perdidos de nós


Rubem Alves
 

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Mãos

 



Nas minhas mãos existes tu.
Guardo-te nas minhas mãos.
Na nudez dos teus silêncios
 e no silêncio do teu corpo.
Agarra a minha mão e rasga a minha pele
procura o sangue que nos une.

Não te preocupes com a pele,
é apenas superfície e voltará a nascer.
Como tu renasces em mim.
Uma e outra vez.
Quero despir-te lentamente,
passear os meu lábios pela tua pele
e sentir-te ainda mais próxima.
Quero-te tanto...
Quero percorrer-te o corpo,
quero sentir que esse arrepio
na tua pele é causado por mim.

Esse teu jeito de ser que me prende cada vez mais a ti.
E no momento em que o desejo fala mais alto...
a tua roupa cai no chão
e eis-te nessa tua nudez
que me chama para ti.
Nua és mais tu...
nua com esse teu sorriso perverso
que pede que me junte a ti
na nudez do corpo e do sentir.


Raul Batista

De: Jose Maria Souviron / Mis ojos muy abiertos para verte....







Mis ojos muy abiertos para verte...
José María Souvirón

Mis ojos muy abiertos para verte,
mis oídos atentos para oírte,
mis ásperas mejillas para herirte,
mis brazos para alzarte y sostenerte.

Mis dientes duros, no para morderte,

sino para rozarte y sonreírte,
mis largas piernas para perseguirte,
y mi gran corazón para quererte.

Mi corazón que hace sonar las horas,

con un compás que el tuyo ya conoce,
con un latir de luz de sol y luna.

Silencio y campanadas vibradoras,

desde la una, amor, hasta las doce,
desde las doce, amor, hasta la una.

Meus olhos muito abertos para  te ver ...

Meus olhos muito abertos para te ver,
meus ouvidos atentos para te ouvir,
minhas bochechas ásperas para te ferir,
meus braços para te segurar e te suspender.

Meus dentes duros, não para te morder,
sim para roçar-te e te sorrir,
minhas pernas longas para te perseguir,
e meu coração grande para te amar.

Meu coração que faz soar as horas,
com um compasso que o teu já conhece,
com um brilho de luz do sol e da lua.

Silencio e campanhinhas vibradoras,
desde uma, amor, até às doze,
desde às doze, amor, até a uma.
 
Do blog , by spersivo

Agradecimento :

Agradeço aos ciber´s que a cada passo veem este blog  , aos que comentam e aos que só " espreitam

srsrsrsr.

Países :

Portugal ;

Lisboa, Marinha Grande , Odivelas, Funchal , Massamá , Cacem , Setubal.
O Beijo
Brasil ; 

Rio de Janeiro , Campinas , Curitiba , Flórianoplis , S, Paulo , Ouro Preto , Maricá etc.

Germany :

Lohnsfeld

Arabia Saudita :

Riyadn 1



terça-feira, 16 de outubro de 2012

Utopia.....

Entrego-me à utopia,
O surreal me entoa odes,
Mitos são os meus sonhos,

Que importa se cultivo flores,
Em terrenos áridos e rochosos,
Se os nenúfares têm asas,
Se os lagos são céu azul,
Se os sinto assim…

É neste estado utópico,
Mente longínqua e absorta,
Que sou tudo na quimera de mim,

Sou-me pássaro alado,
No pico da montanha,
Sou-me borboleta de cores,
No vale do arco-iris,
Sou-me a harpa de anjo,
Debruçada nas estrelas,
Sou golfinho, sou baleia,
O mar não me oculta segredos,

Meu mundo é ser-me sonho,
Eu sou-me a fantasia do tempo,

Que importa se a utopia,
Me tomou em seu a-braço,
Enquanto redijo palavras sem nexo,
Em folhas secas de Outono,
Na branca neve de Inverno,
Nas rosas rubras da Primavera,
No azul do mar em jardim,

São somente palavras,
Pedaços soltos de mãos,
Sedentas, calmas… in-constantes,
Acesas em lamparinas de azeite,
Dando vida à minha alma,
À minha breve passagem,

[Sou-me utopia inata…
Na arte de te criar só para mim )
C.C.



 
 

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

O verbo no infinito




Ser criado, gerar-se, transformar
O amor em carne em amor; nascer
 

Respirar, e chorar, e adormecer
E se nutrir para poder chorar

Para poder nutrir-se; e despertar

Um dia à luz e ver, ao mundo e ouvir
E começar a amar e então sorrir
E então sorrir para poder chorar.

E crescer, e saber, e ser, e haver

E perder, e sofrer, e ter horror
De ser e amar, e se sentir maldito

E esquecer de tudo ao vir um novo amor

E viver esse amor até morrer
E ir conjugar o verbo no infinito...
Vinicius de Moraes

domingo, 14 de outubro de 2012

NO MEU CORAÇÃO TE ENCONTRO



Se é o coração,
que encontra a razão de tudo...
Foi lá que te encontrei,

OPEN SHIRT
no rejuvenescer do meu fascínio.
Declarei o lugar das saudades...
A carência do carinho...
O sentir do querer,
do teu corpo junto ao meu,
no acolher da batida compassada
...da aclamada sintonia.
Aberto à confissão,
ao segredo e à partilha,
que mesmo na distância
que separa você e eu.
A convivência nos aproxima,
tonifica, purifica a vertiginosa paixão
de um elo quase que proibido.
Sentimento,
inflama genuinamente,
em uma crença sem fim
que o fruto apetece proveitosamente
...colher de você.
Deleito-me no acordar da vontade,
em que o meu mundo
toma forma de rumo
ou coragem de enfrentar marés,
desta cálida chuva que procura um mar
para se diluir no infinito do amar.
Brotar de anseio!
É no meu coração,
que eu te acaricio,
te toco,
te beijo,
te abraço na mera fantasia
de me contemplar na cumplicidade,
com alma,
do que sonhei para mim...
Em segredo
...quase guardado!

(A.M)

Quando te vi senti um puro tremor de primavera




Quando te vi senti um puro tremor de primavera
e a voluptuosa brancura de um perfume
No meu sangue vogavam levemente


figa

anénomas estrelas barcarolas
O siêncio que te envolvia era um grande disco branco
e o teu rosto solar tinha a bondade de um barco
e a pureza do trigo e de suaves açucenas
Quando descobri o teu seio de luminosa lua
e vi o teu ventre largamente branco
senti que nunca tinha beijado a claridade da terra
nem acariciara jamais uma guitarra redonda
Quando toquei a trémula andorinha do teu sexo
a adolescência do mundo foi um relâmpago no meu corpo
E quando me deitei a teu lado foi como se todo o universo
se tornasse numa voluptuosa arca de veludo
Tão lentamente pura e suavemente sumptuosa
foi a tua entrega que eu renasci inteiro como um anjo do sol

António Ramos Rosa

sábado, 13 de outubro de 2012

Desculpas tolas




Eu sei que não te amei este ano
Da forma que devia ter te amado.
O tempo passado, porém, não apaga
Este amor que tenho conservado,
Sem aditivos ou estabilizantes,
Como uma preciosidade
Que me garante que a vida vale à pena
Ainda que não te veja ou não te escute
Por saber que existes e respiras
E estais em algum lugar distante.

Muitas vezes leio tuas palavras
E, como um crente, vejo tua imagem.
Sonho, rio, com teus sonhos viajo
Como se fosse possível sem te ver te adivinhar.
Sei que um dia a mágica há de acabar,
Mas, acredito, em ti como no presente:
Algo que se vive e nem se sente,
Porém, cuja beleza de viver
Me leva muito adiante. Há de haver um instante
Em que nos veremos frente à frente
E, decerto, será diferente.

O amor, como a vida, é incerto,
Um quebra-cabeças que os desejos e os risos
Eleva, desce e tanto causa dores como preces.
Eu não sei de nada e nem te conheço
Embora nos sonhos que teço
Está o de te conhecer
E, até nos meus mais leves sonos,
Isto é uma imensa fonte de prazer!

Fechei a cortina



Entreabríamos o cortinado ao cair da tarde
e deixávamos entrar a música e os duendes.
 
More Than Love

As begónias cobriam de verde o canto da sala,
adormecias no sofá em frente ao noticiário das oito.
O medo saia do teu corpo, visitava-me na cozinha
desvirtualizava o fio claro do pensamento,
empurráva-me os passos, alongava-me os dedos
em tremores e suores frios de silêncio.
Não consigo ter-te sem o universo que te circunda
onde te amarras numa ânsia de naufrágio.
Inquieta, caminho de novo na autofagia
que me deixa exangue de vontade
no ostracismo de solidão que me cerca.
Agora fechei a cortina e espero quieta.
No escuro procuro a luz das velas que se apagam
quando me aproximo e não descubro a saída
( do labirinto.
Sei que se abrir o cortinado entra a luz
mas com os duendes vens tu e o medo
que me alonga os dedos e os sonhos
(deixam de ter asas.
As árvores são verdes, o céu azul e as coisas
e as pessoas compram-se porque é assim.
Tudo tem um lugar estático e predeterminado
como se viver não fosse uma dialéctica
de cada um consigo e com a sua circunstância.
 
 
De: H.G.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Teu corpo claro e perfeito



Red


Teu corpo claro e perfeito,

– Teu corpo de maravilha,
Quero possuí-lo no leito
Estreito da redondilha...

Teu corpo é tudo o que cheira...
Rosa... flor de laranjeira...

Teu corpo, branco e macio,
É como um véu de noivado...

Teu corpo é pomo doirado...

Rosal queimado do estio,
Desfalecido em perfume...

Teu corpo é a brasa do lume...

Teu corpo é chama e flameja
Como à tarde os horizontes...

É puro como nas fontes
A água clara que serpeja,
Quem em antigas se derrama...

Volúpia da água e da chama...

A todo o momento o vejo...
Teu corpo... a única ilha
No oceano do meu desejo...

Teu corpo é tudo o que brilha,
Teu corpo é tudo o que cheira...
Rosa, flor de laranjeira...

Manuel Bandeira

Aqui eu te amo.




Nos escuros pinheiros se desenlaça o vento.

Fosforesce a lua sobre as águas errantes.

Andam dias iguais a perseguir-se.


Laura

Define-se a névoa em dançantes figuras.

Uma gaivota de prata se desprende do ocaso.

As vezes uma vela. Altas, altas, estrelas.


Ou a cruz negra de um barco.

Só.

As vezes amanheço, e minha alma está húmida.

Soa, ressoa o mar distante.

Isto é um porto.

Aqui eu te amo.


Aqui eu te amo e em vão te oculta o horizonte.

Estou a amar-te ainda entre estas frias coisas.

As vezes vão meus beijos nesses barcos solenes,

que correm pelo mar rumo a onde não chegam.


Já me creio esquecido como estas velha âncoras.

São mais tristes os portos ao atracar da tarde.

Cansa-se minha vida inutilmente faminta..

Eu amo o que não tenho. E tu estás tão distante.


Meu tédio mede forças com os lentos crepúsculos.

Mas a noite enche e começa a cantar-me.

A lua faz girar sua arruela de sonho.


Olham-me com teus olhos as estrelas maiores.

E como eu te amo, os pinheiros no vento,

querem cantar o teu nome, com suas folhas de cobre.


Pablo Neruda

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Porque o AMOR é um ESTADO DE GRAÇA e a AMIZADE uma CONSEQUÊNCIA‏



Conta Comigo SempreConta comigo sempre. Desde a sílaba inicial até à última gota de sangue. Venho do silêncio incerto do poema e sou, umas vezes constelação e outras vezes árvore, tantas vezes equilíbrio, outras tantas tempestade. A nossa memória é um mistério, recordo-me de uma música maravilhosa que nunca ouvi, na qual consigo distinguir com clareza as flautas, os violinos, o oboé. 
O sonho é, e será sempre e apenas, dos vivos, dos que mastigam o pão amadurecido da dúvida e a carne deslumbrada das pupilas. Estou entre vazios e plenitudes, encho as mãos com uma fragilidade que é um pássaro sábio e distraído que se aninha no coração e se alimenta de amor, esse amor acima do desejo, bem acima do sofrimento. 
Conta comigo sempre. Piso as mesmas pedras que tu pisas, ergo-me da face da mesma moeda em que te reconheço, contigo quero festejar dias antigos e os dias que hão-de vir, contigo repartirei também a minha fome mas, e sobretudo, repartirei até o que é indivisível. Tu sabes onde estou. 
Sabes como me chamo. Estarei presente quando já mais ninguém estiver contigo, quando chegar a hora decisiva e não encontrares mais esperança, quando a tua antiga coragem vacilar. Caminharei a teu lado. Haverá, decerto, algumas flores derrubadas, mas haverá igualmente um sol limpo que interrogará as tuas mãos e que te ajudará a encontrar, entre as respostas possíveis, as mais humildes, quero eu dizer, as mais sábias e as mais livres. 
Conta comigo. Sempre. 

Joaquim Pessoa, in 'Ano Comum'

Soneto


 

Passei ontem a noite junto dela.

Do camarote a divisão se erguia


O povo é sereno
Apenas entre nós - e eu vivia
No doce alento dessa virgem bela... Tanto amor, tanto fogo se revela
Naqueles olhos negros! Só a via!
Música mais do céu, mais harmonia
Aspirando nessa alma de donzela! Como era doce aquele seio arfando!
Nos lábios que sorriso feiticeiro!
Daquelas horas lembro-me chorando! Mas o que é triste e dói ao mundo inteiro
É sentir todo o seio palpitando...
Cheio de amores! E dormir solteiro!


Álvares de Aze
vedo

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Se eu nunca disse que os teus dentes




Se eu nunca disse que os teus dentes
São pérolas,
É porque são dentes.
Se eu nunca disse que os teus lábios
São corais,
É porque são lábios.
Se eu nunca disse que os teus olhos
São dónix, ou esmeralda, ou safira,
É porque são olhos.
Pérolas e ónix e corais são coisas,
E coisas não sublimam coisas.
Eu, se algum dia com lugares-comuns
Houvesse de louvar-te,
Decerto buscava na poesia,
Na paisagem, na música,
Imagens transcendentes
Dos olhos e dos lábios e dos dentes.
Mas crê, sinceramente crê,
Que todas as metáforas são pouco
Para dizer o que eu vejo.
E vejo olhos, lábios, dentes.

Reinaldo Ferreira

Imagem retirada do Google

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Súplica




Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.

Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.

Miguel Torga

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Lenda dos Sonhos




Noite 
lenta, eterna, magia dos espíritos... 
Apalpo a distância do movimento... 
O brilho profundo do luar 
Aquece o gesto sentido do amor 
E transformo-te na lenda dos sonhos. 
As estrelas cantam o brilho sublime 
Dentro da ternura do teu olhar 
Reflectindo sobre a imensidão do oceano 
O calor sensual do teu abraço. 
Murmúrios delicioso povoam os céus 
Embalando a doçura dos teus beijos 
E o arco-íris eleva-se no horizonte 
Colorindo as ondas quentes dos teus cabelos 
Por onde navegam as verdades dos teus sentimentos. 
Os sentidos flutuam pelo aroma verdadeiro 
Da simplicidade da tua generosidade 
Criando a simbiose dos teus desejos. 
Na canção embriagante dos sinos celestiais 
Envolvo-me na tua sinceridade 
E torno-te eterna dentro do meu peito.


Jorge Viegas


Imagem retirada do Google

sábado, 6 de outubro de 2012

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Reter





Hoje recapitulo
as gargalhadas
e as cores do arco-íris
que isolo quando me reaproximo
ou quando te revejo
regressar inesperadamente.

Hoje refaço a calma
e realojo o amor
no lado certo da vida.


Paula Raposo,

Estou mais perto de ti porque te amo

Estou Mais Perto de Ti porque Te Amo
 Os meus beijos nascem já na tua boca.
Não poderei escrever teu nome com palavras.
Tu estás em toda a parte e enlouqueces-me.
Canto os teus olhos mas não sei do teu rosto.
Quero a tua boca aberta em minha boca.
E amo-te como se nunca te tivesse amado
porque tu estás em mim mas ausente de mim.

Nesta noite sei apenas dos teus gestos

e procuro o teu corpo para além dos meus dedos.
Trago as mãos distantes do teu peito.

Sim, tu estás em toda a parte. Em toda a parte.

Tão por dentro de mim. Tão ausente de mim.
E eu estou perto 
 
Filipa Gonçalves
de ti porque te amo.

Joaquim Pessoa, in 'Os Olhos de Isa'



 
 

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

As últimas vontades




Deixa ficar a flor,
a morte na gaveta,
o tempo no degrau.
Conheces o degrau:
o sétimo degrau
depois do patamar;
o que range ao passares;
o que foi esconderijo
do maço de cigarros
fumado às escondidas...
Deixa ficar a flor.
E nem murmures.Deixa
o tempo no degrau,
a morte na gaveta.
Conheces a gaveta:
a primeira da esquerda,
que se mantém fechada.
Quem atirou a chave
pela janela fora?
Na batalha do ódio,
destruam-se,fechados,
sem tréguas,os retratos!
Deixa ficar a flor.
A flor? Não a conheces.
Bem sei.Nem eu.Ninguém.
Deixa ficar a flor.
Não digas nada.Ouve.
Não ouves o degrau?
Quem sobe agora a escada?
Como vem devagar!
Tão devagar que sobe...
não digas nada.Ouve:
é com certeza alguém,
alguém que traz a chave.
Deixa ficar a flor.


David Mourão Ferreira

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Esta manhã encontrei o teu nome




Esta manhã encontrei o teu nome nos meus sonhos
e o teu perfume a transpirar na minha pele. E o corpo
doeu-me onde antes os teus dedos foram aves
de Verão e a tua boca deixou um rasto de canções.

No abrigo da noite, soubeste ser o vento na minha
camisola; e eu despi-a para ti, a dar-te um coração
que era o resto da vida - como um peixe respira
na rede mais exausta. Nem mesmo à despedida

foram os gestos contundentes: tudo o que vem de ti
é um poema. Contudo, ao acordar, a solidão sulcara
um vale nos cobertores e o meu corpo era de novo
um trilho abandonado na paisagem. Sentei-me na cama

e repeti devagar o teu nome, o nome dos meus sonhos,
mas as sílabas caíam no fim das palavras, a dor esgota
as forças, são frios os batentes nas portas da manhã.


Maria do Rosário Pedreira

Foto: Barry Elkins

Inominado



O Bigode...

Primeiro foi o sonho,
Inopinado e louco.
Depois a audácia,
O corrupio, o sufoco.
Foi a nostalgia.
A dor da saudade.
Foi do trabalho o tesão.
Foram dúvidas e inseguranças.
Foi o coma da traição.
Foram os cansaços.
As olheiras. Os olhos baços.
Foram milhentas milhas
Percorridas em mil regaços.
Foi a solidão.
E, foi sempre o sonho.
Sempre a solidão e,
Dos medos o mais medonho.
Foi o bem querer!...
Apenas e só o bem querer!...

Percorri mil anos
A velocidade da luz.
Ultrapassei nebulosas.
Cabeceei asteróides
Para balizas imaginárias.
Doei os anéis de Saturno
A ninfas alucinadas.
Contornei buracos negros.
Fiz amor nas crateras da Lua
Com camisas de Vénus.
Fui amante duma marciana,
Louca e insaciável,
Loura e insociável.
Mandei para os raios que o partam...
......O Sol.
Passeei-me por Mercúrio...
......Crómio.
Julguei sarar minhas feridas.

Perdi Galateia. Perdi tudo.
E, eu próprio, perdi-me
Em qualquer parte.

Percorri mil anos
A velocidade da luz!...
De repente, o breu.
A ausência total de luz.
De repente, a dor.
De repente, a mais profunda,
A mais pesada das solidões:
Eu em busca de mim!


Luís Eusébio