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sexta-feira, 29 de abril de 2011

Poema de Espera.....



Talvez seja melhor
Que não venhas.
Ou, melhor ainda se nunca
tivesses vindo.

Porque se assim fosse
Não sentiria
O que estou sentindo
Tamanha ausência de significado.

Talvez seja melhor
Que não venhas.
Podes não ser
Mais nada do que foi
E só matar
O que houve entre nós dois.

Tanto tempos separados
Deve fazer diferença
E se, de repente,
Somos dois estranhos?

Não, é melhor que não venhas.
Melhor permanecer, como agora,
Sem saber por quais caminhos,
Lugares e bancos
Os teus sonhos repousam.

No entanto há uma parte de mim
Que insiste
Em que, de fato, jamais partistes.
E ainda sonha
Com os dias gloriosos
De tua volta
E me sussura
Que não te esquecerei.

Talvez seja melhor que não venhas-
Repito, ansioso, por ouvir tua voz rouca
Me chamar, novamente, de “Meu lindo”!

O Segredo.....




O segredo está no amor,
é evidente,
mas também em sabermos
afastar do nosso convívio
o que não presta.
Só quem se libertou
do medíocre e do vazio
poderá ser feliz.

Torquato da Luz

Foto:Christian Coigny

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Fantasia.....




Menina, me conte uma mentira.
Suas mentiras suaves e delicadas
Adornam a minha vida
Reforçam os meus sonhos
Excitam o meu corpo
Provocam meus desejos.
Me fazem pensar que tenho amor, que transcendo a dor
Que posso me entregar, corpo e alma,
Embora eu seja apenas um deles.

Stefano Nardi

Foto:Andriete Paris Marques

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Quero.............................................


Quero a loucura por inteiro. Qualquer que seja ela...Gota a gota, dedo a dedo, penetrando nas vertigens dos meus medos e desrespeitando sem ternura os limites da minha sanidade....

terça-feira, 26 de abril de 2011

Amor.....




Amam-se
Os dois são um só
O que um sente
O outro também sente
São pura química
Olham-se e já sabem
O que cada um pensa
Amam-se como nunca amaram ninguém
Rodopiam numa dança louca
Cheia de vermelho
Da cor da paixão…

Foto:Michael Vahle

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Brincadeirinha....



Ouça, não importa o que te digo
por telefone
são palavras de qualquer jeito
no teu ouvido.

Eu te amo.

Por que somos assim?

Enquanto tu és perfumada como uma rosa
Eu gosto de um vinho.

Porque nós somos assim
igualdade de cada um
na plenitude de seu destino.

Me amas do jeito que sou
senão seria equivocar-se

Eu te amo, e me equivoco
e volto a te amar.

Como te amo!

domingo, 24 de abril de 2011

De : César Moro




El amor al desperdirse

César Moro

El amor al despedirse dice: sueña conmigo
el sueño es una bestia huraña
que hace revolverse los ojos con la respiración
entrecortada pronunciar tu nombre
con letras indelebles escribir tu nombre
y no encontrarte y estar lejos y salir dormido
marchar hasta la madrugada a caer en
el sueño para olvidar tu nombre
y no ver el día que no lleva tu nombre
y la noche desierta que se lleva tu cuerpo

O amor ao se despedir

O meu amor ao se despedir disse: sonha comigo
o sonho é uma besta mal-humorada
que me faz revolver os olhos e, com a respiração
entrecortada, pronunciar o teu nome
com letras indeléveis escrever o teu nome
e não encontrar-te e estar distante e sair dormido
marchando até a madrugada cair no
sonho para esquecer o teu nome
e não ver o dia que não leva o teu nome
e a noite deserta que leva o teu corpo.

sábado, 23 de abril de 2011

Canção do amor distante.....



Talvez seja ilusão
desta paixão escondida
ser razão de tanta vida
sem ninguém saber de nada.
Até mesmo quando minto
só disfarço o amor que sinto,
esta coisa tão sagrada
sendo assim tão pecadora
percebe que o mundo doura
em pensar na doce amada.
Percebo na madrugada
seu perfume no jasmin,
que me dá a certeza, enfim,
da dor, que dói tanto em mim,
da distância que separa.
E o amor, que é dor não pára,
para não me deixar impune
a distância que separa
é o que ainda mais nos une!

quinta-feira, 21 de abril de 2011

COMO NO CINEMA.....



Quando tu chegastes,
uma lua radiosa,
te vi tão formosa
que nem tive hesitação,
fui no se colar, colou,
com todo o coração
e te passei a mão,
a língua, o braço, o dedo,
sem receio ou medo,
e veio, então, o beijo
que só selou o desejo,
o gosto, a emoção
e, como no cinema,
tocou uma canção.
Me vi em Bagdá,
dormi em Bariloche,
acordei em Casablanca,
corri por Zanzibar
em grego fui falar
somente com o intento
de te amar, te amar, te amar...

Cantico.....

Quinta-feira, Abril 21, 2011




Num impudor de estátua ou de vencida,
coxas abertas, sem defesa..., nua
Ante a minha vigília, a noite, e a lua,
Ela, agora, descansa, adormecida.

Dos seus mamilos roxos-azuis, em ferida,
Meu olhar desce aonde o sexo estua.
Choro... e porquê? Meu sonho, irreal, flutua
Sobre funduras e confins da vida.

Minhas lágrimas caem-lhe nos peitos...,
Enquanto o luar a nimba, inerte, gasta
Da ternura feroz do meu amplexo.

Cantam-me as veias poemas nunca feitos...
E eu pouso a boca, religiosa e casta,
Sobre a flor esmagada do seu sexo.

Nota: O poeta vai lá , mas , eu não....rsrsrs

José Régio

Imagem retirada do Google

quarta-feira, 20 de abril de 2011

A meu favor...... Coisa amar.




A meu favor
Tenho o verde secreto dos teus olhos
Algumas palavras de ódio algumas palavras de amor
O tapete que vai partir para o infinito
Esta noite ou uma noite qualquer
A meu favor
As paredes que insultam devagar
Certo refúgio acima do murmúrio
Que da vida corrente teime em vir
O barco escondido pela folhagem
O jardim onde a aventura recomeça.

Alexandre O'Neill



terça-feira, 19 de abril de 2011

Arrojos......




Se a minha amada um longo olhar me desse
Dos seus olhos que ferem como espadas,
Eu domaria o mar que se enfurece
E escalaria as nuvens rendilhadas.

Se ela deixasse, extático e suspenso
Tomar-lhe as mãos "mignonnes" e aquecê-las,
Eu com um sopro enorme, um sopro imenso
Apagaria o lume das estrelas.

Se aquela que amo mais que a luz do dia,
Me aniquilasse os males taciturnos,
O brilho dos meus olhos venceria
O clarão dos relâmpagos nocturnos.

Se ela quisesse amar, no azul do espaço,
Casando as suas penas com as minhas,
Eu desfaria o Sol como desfaço
As bolas de sabão das criancinhas.

Se a Laura dos meus loucos desvarios
Fosse menos soberba e menos fria,
Eu pararia o curso aos grandes rios
E a terra sob os pés abalaria.

Se aquela por quem já não tenho risos
Me concedesse apenas dois abraços,
Eu subiria aos róseos paraísos
E a Lua afogaria nos meus braços.

Se ela ouvisse os meus cantos moribundos
E os lamentos das cítaras estranhas,
Eu ergueria os vales mais profundos
E abateria as sólidas montanhas.

E se aquela visão da fantasia
Me estreitasse ao peito alvo como arminho,
Eu nunca, nunca mais me sentaria
Às mesas espelhentas do Martinho.

Cesário Verde

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Conto erótico......




-Assim ?
-É. Assim.
-Mais depressa ?
-Não. Assim está bem. Um pouco mais para...
-Assim ?
-Não, espere.
-Você disse que...
-Eu sei. Vamos recomeçar. Diga quando estiver bem.
-Estava perfeito e você...
-Desculpe.
-Você se descontrolou e perdeu o...
-Eu já pedi desculpa !
-Está bem. Vamos tentar outra vez. Agora.
-Assim ?
-Um pouco mais pra cima.
-Aqui ?
-Quase. Está quase !
-Me diga como você quer. Oh, querido...
-Um pouco mais para baixo.
-Sim.
-Agora para o lado. Rápido !
-Amor, eu...
-Para cima ! Um pouquinho...
-Assim ?
-Aí ! Aí !
-Está bom ?
-Sim. Oh, sim.
-Pronto.
-Não ! Continue.
-Puxa, mas você..
-Olha aí... Agora você...
-Deixa ver...
-Não, não. Mais para cima.
-Aqui ?
-Mais para o lado.
-Assim ?
-Para a esquerda !! O lado esquerdo !
-Aqui ?
-Isso ! Agora coça.

Luís Fernando Veríssimo

domingo, 17 de abril de 2011






Envoltos pela névoa de linho
os amantes se olham
indescobertos...

Envoltos por sins e temores
os amantes se tocam
cautelosamente...

Envoltos por olhos ardentes...
os amantes se desejam
misteriosamente...

Envoltos... no quarto fechado
há um não sobrar de
espaço para dois

As palavras sussurram delicadamente
prazeres inconfessáveis e não ditos
Mãos espalmadas em busca de espaço
desafiando as leis da física...
Pernas, ora trançadas ora retesadas...
querendo quebrar todos os limites
Bocas em beijos, em cada milímetro...
engolindo toda a possível resistência

Entre lençóis,
os amantes se esquecem
eternamente do tempo ...

Para quê tempo?
se, entre lençóis, eles
vivem tão intensamente?...

E... bem cá entre nós
- Para quê mais os lençóis?...

Djalma Filho

Dama.......


Delírio



Nua, mas para o amor não cabe o pejo
Na minha a sua boca eu comprimia.
E, em frêmitos carnais, ela dizia:
– Mais abaixo, meu bem, quero o teu beijo!

Na inconsciência bruta do meu desejo
Fremente, a minha boca obedecia,
E os seus seios, tão rígidos mordia,
Fazendo-a arrepiar em doce arpejo.

Em suspiros de gozos infinitos
Disse-me ela, ainda quase em grito:
– Mais abaixo, meu bem! – num frenesi.

No seu ventre pousei a minha boca,
– Mais abaixo, meu bem! – disse ela, louca,
Moralistas, perdoai! ....NÃO obedeci.....

Olavo bilac

Tentação número 1....




Por que haveria eu de, alguma vez,
me ter precipitado?

é certo que ajudou à insensatez
o teu parecer tão intencionado.

pois ainda ao sol, sobre a nudez,
uma peça te faltava ter tirado:

e quando a visão se tornou embriaguez,
o ar despido já nos tinha enlaçado.

foi então vertical, como devia, o que se fez:
pôr ordem no que tinhas espalhado.

só não percebi depois, ao revés,
o teu olhar de corpo castigado.

Vitor Oliveira Jorge


Tudo se eternize nas sombras de uma espiral......

sábado, 16 de abril de 2011

Dancemos.....

Post Scriptum.....




Agora regresso à tua claridade.
Reconheço o teu corpo, arquitectura
de terra ardente e lua inviolada,
flutuando sem limite na espessura
da noite cheirando a madrugada.

Acordaste na aurora, a boca rumorosa
dum desejo confuso de açucenas;
rosa aberta na brisa ou nas areias,
alta e branca, branca apenas,
e mar ao fundo, o mar das minhas veias.

Estás de pé na orla dos meus versos
ainda quente dos beijos que te dei;
tão jovem, e mais que jovem, sem mágoa
- como no tempo em que tinha medo
que tropeçasses numa gota de água.

Eugénio de Andrade

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Explicaçãozinha do maior amor.....



É preciso apenas que tu entendas
Que o meu amor também se alimenta do silêncio.
Às vezes até me canso de mim mesmo
E minha alma, que não tem pauta,
Segue seus compassos desarmoniosos pela vida
Dançando de forma errante e misteriosa.
Nem penses que não é por te amar, querida,
Nem que no meu coração não sigas
Como a jóia mais preciosa.
Mas, crê em mim,
Que a melhor protecção até mesmo das rosas,
Muitas vezes, é a distância e o isolamento.
Se afastar, algumas vezes, é por fermento
No pão de cada dia
E comemorar isto com a alegria.
Como eu poderia te explicar
Que quanto menos convivo
Mais aumenta meu desejo de te amar
E, mesmo assim, distante
Sei que não consigo mais viver sem ti
De forma que quando chego
Sinto um desejo imenso de partir...
Só para te amar mais do que te amo.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Gravidez........


Mulheres grávidas, galeria



O filho pergunta ao pai: - Oh Pai, a Maria pode engravidar?

Pai: - Quem é a Maria filhinho?

Filho: - É a minha namorada lá da escola.

Pai: - E quantos anos tem ela?

Filho: - Tem 4 anos.

Pai: - Claro que não!

Filho: - Uhh! Granda cabra! Com a história do aborto fez-me vender o

triciclo.



Tirado de um mail:)

No meu desejo está tudo que aqui não se pode dizer ...

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Paraíso proibido.....



Nunca pensei que nosso amor
Fosse ficar tão triste
Por um tempinho assim
No qual não te falei.
Talvez eu não seja mesmo
O que lhe convém,
Mas, feche os olhos
E pense como te quero bem.
Esta tristeza não pode perdurar
Afinal teus olhos não foram feitos
Para guardar imagens sem sentido
Eu sei que teu coração pode estar ferido
Por jamais ser o que tu desejavas
Porém, não tenho a menor culpa
De que antes de conhecer já te amava
E se tu és meu paraíso proibido
Não estou nem aí para o pecado
Quero é comer a maça de teu lado!

Olhos postoa na terra....




Olhos postos na terra, tu virás
no ritmo da própria primavera,
e como as flores e os animais
abrirás nas mãos de quem te espera.

Eugénio de Andrade

terça-feira, 12 de abril de 2011

Teu rosto de desastres e tormentas



Teu rosto de desastres e tormentas
e risos lágrimas e sol e vento
teu rosto de marés e vagas lentas
em que o prazer é quase sofrimento

e o sofrimento é como rosa roxa
florindo devagar em tua boca
se a minha mão te chicoteia a coxa
e no teu corpo há uma égua louca.

Começam então as tuas doces queixas
e vais para um país onde desmaias
quando o sol no teu rosto acende flechas.

E eu temo que te percas e não saias
do abismo em que te abres e te fechas
de cada vez que te levanto as saias.

Manuel Alegre

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Devoção......



Eu sei que, muitas vezes, meu amor,
Não sou, nem faço, o que desejas
E pareço que adoro malabares.

Eu sei que, muitas vezes, me esperas
Enquanto me perco pelos bares
Ou apenas olhando o sol se por.

Outras vezes, em dois lugares
Ainda, por azar, não posso estar
E, a fraqueza minha, é tua decepção.

Porém, os crentes, em outro lugar,
Cultivam seus deuses nos altares
E, em todo lugar, estais no meu coração.

Vê, mulher, que estou a teus pés!
Sê bondosa, segue tua percepção
De que é a minha devoção te amar!

domingo, 10 de abril de 2011

O verbo exacto é......

Não faço poemas como quem chora,
nem faço versos como quem morre.
Quem teve esse gosto foi o bardo Bandeira
quando muito moço; achava que tinha
os dias contados pela tísica
e até se acanhava de namorar.
Faço poemas como quem faz amor.
É a mesma luta suave e desvairada
enquanto a rosa orvalhada
se vai entreabrindo devagar.
A gente nem se dá conta, até acha bom,
o imenso trabalho que amor dá para fazer.
Perdão, amor não se faz.
Quando muito, se desfaz.
Fazer amor é um dizer
(a metáfora é falaz)
de quem pretende vestir
com roupa austera a beleza
do corpo da primavera.
O verbo exato é foder.
A palavra fica nua
para todo mundo ver
o corpo amante cantando
a glória do seu poder.

Thiago de Mello

sábado, 9 de abril de 2011

Marchinha da boa vida......


A vida é boa

Nem quero saber de nada
Tô à-toa, à-toa
Vamos nesta pisada
Que a vida é boa,
Que a vida é boa!

Balança, meu amor,
Dança, dança,
Me olha, mais uma vez,
Com este jeito sedutor
Que pra onde quiser ir eu vou!

Sei que a música tá no fim,
Mas, pode deixar ela acabar
Que, meu bem, há o amanhã sim
E a vida tão boa, tão linda
Tão doce há de continuar..

Não preciso nem de carnaval
Que minha folia é te beijar.
Vem, meu amor, que a vida é boa
Enquanto eu poder te amar!

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Tudo tem seu tempo certo.....



Velhas lembranças

O teu amor
Que é quase como se fosse um estepe
É a única coisa que me faz serelepe
Que me faz sorrir e cantar
Ainda que isto seja estragar outros ouvidos
E esgotar os sentidos em tentativas de amar
mais do que posso.
Todo o entorno, porém, pouco importa
Se há ideias, momentos, detalhes tão nossos
Que me sinto tão feliz como te sentes
Por trás de véus, de cortinas e de portas
E guardamos estes segredos ternamente
Como um arco-iris que a chuva levou ...

Há um tempo em que haveremos de esquecer
Tanta coisa que nos tornou tão felizes.
E nos dias em que houver uma chuvinha
Em que os pingos cantarem no telhado,
Ainda haverá em ti um resto de memória
Que há de te dar um vago sentimento de euforia
E dirás mesmo sem pensar de onde viria
Que tudo passou, mas, foi uma glória...
Sentirás que fostes amada-tua maior vitória-
E rirás e dançarás feito uma louca
E gemerás como se beijada na boca!

quinta-feira, 7 de abril de 2011

De : Miguel Otero Silva


El aire ya no es aire, sino aliento...

Miguel Otero Silva

El aire ya no es aire, sino aliento;
el agua ya no es agua, sino espejo,
porque el agua es apenas tu reflejo
y ruta de tu voz es sólo el viento.

Ya mi verso no es verso, sino acento;
ya mi andar no es andar, sino cortejo,
porque vuelvo hacia ti cuando te dejo
y es sombra de tu luz mi pensamiento.

Ya la herida es floral deshojadura
y la muerte es fluencia de ternura
que a ti me liga con perpetuos lazos:

tornóse en rosa espléndida la herida
y ya no es muerte, sino dulce vida,
la muerte que me das entre tus brazos.

O ar não é o ar, mas, sim alento ...


O ar não é o ar, mas, sim alento;
a água já não é água, mas, espelho
porque a água é apenas teu reflexo
e a rota de tua voz é só o vento.

Já meu verso não é verso, sim acento
e meu andar não é andar, mas, sim cortejo
porque volto até ti quando te deixo
e é sombra de tua luz meu pensamento.

Já a ferida é desfolhada roseira
e a morte é a fluência de ternura
que a ti me liga com perpétuos laços:

Torna-se em rosa esplendida a ferida
e já não é mais a morte, mas, a doce vida
a morte que me dás entre teus braços.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

eu vinha......

Eu vinha por um pouco de vida



Eu vinha pela frescura da seda,
pela promessa da água na tua boca
limpa como um alvéolo, como uma fonte.
Eu vinha pela hospitalidade dos teus braços
abertos sobre as dunas, sobre as camas,
sobre a areia macia das paixões furtivas.
Eu vinha pela sede e pela aventura,
com a desabrida idade dos corsários,
dos animais enleantes ziguezagueando
pelo meio dos juncos e das pedras.
Eu vinha pela desordem dos planetas
no meu livro dos mistérios do céu,
no meu mapa dos assombros da alma.
Eu vinha pelo doce veneno de uma língua
semeando no meu corpo os sinais da perdição.
Eu vinha com o sal nos olhos, ardendo
com o lume a queimar-me a fala
e pedia à água para ser chuva
e à chuva, num repente, para ser mar.
Eu vinha por um pouco de vida, só um pouco,
no tumulto da minha existência de papel.

José Jorge Letria

terça-feira, 5 de abril de 2011

Eras o fruto.....

Canção (2)



Tu eras neve.
Branca neve acariciada.
Lágrima e jasmim
no limiar da madrugada.
Tu eras água.
Água do mar se te beijava.
Alta torre, alma, navio,
adeus que não começa nem acaba.

Eras o fruto
nos meus dedos a tremer.
Podíamos cantar
ou voar, podíamos morrer.

Mas do nome
que maio decorou,
nem a cor
nem o gosto me ficou.

Eugénio de Andrade

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Jorge Palma-Estrela do mar




Numa noite em que o céu tinha um brilho mais forte
E em que o sono parecia disposto a não vir
Fui estender-me na praia sozinho ao relento
E ali longe do tempo acabei por dormir

Acordei com o toque suave de um beijo
E uma cara sardenta encheu-me o olhar
Ainda meio a sonhar perguntei-lhe quem era
Ela riu-se e disse baixinho: estrela do mar

Sou a estrela do mar
Só ele obedeço, só ele me conhece
Só ele sabe quem sou no principio e no fim
Só a ele sou fiel e é ele quem me protege
Quando alguém quer à força
Ser dono de mim

Não se era maior o desejo ou o espanto
Mas sei que por instantes deixei de pensar
Uma chama invisível incendiou-me o peito
Qualquer coisa impossível fez-me acreditar

Em silêncio trocámos segredos e abraços
Inscrevemos no espaço um novo alfabeto
Já passaram mil anos sobre o nosso encontro
Mas mil anos são poucos ou nada para a estrela do mar.

domingo, 3 de abril de 2011

Um poema clássico português....

Destino



Quem disse à estrela o caminho
Que ela há-de seguir no céu?
A fabricar o seu ninho
Como é que a ave aprendeu?
Quem diz à planta
E ao mudo verme que tece
Sua mortalha de seda
Os fios quem lhos enreda?

Ensinou alguém à abelha
Que no prado anda a zumbir
Se à flor branca ou à vermelha
O seu mel há-de ir pedir?

Que eras tu meu ser, querida,
Teus olhos a minha vida,
Teu amor todo o meu bem...
Ai! não mo disse ninguém.
Como a abelha corre ao prado,
Como no céu gira a estrela,
Como a todo o ente o seu fado
Por instinto se revela,
Eu no teu seio divino
Vim cumprir o meu destino...
Vim, que em ti só sei viver,
Só por ti posso morrer.

Almeida Garrett

Foto:Roman Serenko

sábado, 2 de abril de 2011

.....Paixão..............................




Cada vez mais
Estou apaixonado!
Já não passo sem ti
Sem o teu cheiro
Sem o teu corpo
Sem a tua voz
Sem os teus beijos
Sem o teu sexo
Sem as tuas mãos
E quando estás comigo
Sorrio
Dou-me
Sou feliz…

Foto:Howard Schatz

sexta-feira, 1 de abril de 2011

minha senhora da noite....

Não tenho tempo para as estrelas



Se cruzasse o universo
De ponta a ponta,
Buscaria tão somente
Teu coração.
Se vagasse sobre o abismo
Azul e medonho do mar,
Buscaria simplesmente
As profundezas do teu sentimento.
Quando olho o céu noturno
Busco o rumo certo
Para teus suaves abraços.
Não tenho tempo a perder
Olhando as estrelas errantes,
Pois eu mesmo erro na terra
Tentando encontrar meu amor.
Poderia ser tua face
Como aquela constelação
Que me fita com diamantinos luzeiros.
Assim sendo não perderia
Tempo com as galáxias
Pois nas estrelas dos teus olhos
Encontro toda luz que preciso.
Não tenho tempo para as estrelas,
Nem mesmo se caíssem a meus pés,
Porque caminho certeiro como flecha
Para o coração bem amado
Da minha senhora da noite.

Marco António Cardoso

Foto:Yuri Bonder